O movimento é essencialmente político, pois legitima a ocupação do território por ordem “divina”, ligando-se a um projeto de poder e expansão territorial,
A imagem de cristãos empunhando a bandeira de Israel em manifestações políticas no Brasil e no mundo, embora pareça contraditória, é uma manifestação do sionismo cristão, um movimento ideológico transnacional com dimensões religiosas e políticas.
A teóloga e socióloga Brenda Carranza (Unicamp) explica que os sionistas cristãos acreditam que o povo judeu tem o direito de possuir e habitar a terra por concessão divina, conforme registrado na Bíblia hebraica.
Esse entendimento se apoia no dispensacionalismo, uma cosmovisão que pressupõe uma leitura literal da Bíblia, interpretando as profecias sobre Israel como um futuro cumprimento literal e terrestre para a nação. Essa visão confunde o Estado de Israel contemporâneo com o imaginário bíblico, desconsiderando a geopolítica e as demais populações do território, como os palestinos.
O sionismo cristão, que se fortaleceu historicamente no meio protestante após a tradução da Bíblia para as línguas vernáculas, contraria a antiga teologia da substituição. Para os adeptos, o apoio a Israel é uma forma de “abençoar” a nação escolhida por Deus, evitando a punição divina.
O historiador e teólogo Gerson Leite de Moraes (Mackenzie) aponta que essa leitura que equipara o Israel bíblico ao Israel de hoje “só interessa do ponto de vista político”. A socióloga Carranza reforça que o movimento é essencialmente político, pois legitima a ocupação do território por ordem “divina”, ligando-se a um projeto de poder e expansão territorial, especialmente com a ascensão da extrema-direita global e a necessidade do Estado de Israel contemporâneo de manter o elo religioso.
No Brasil, os evangélicos, sobretudo os pentecostais, são os principais agentes dessa difusão, com políticos não evangélicos também utilizando a bandeira de Israel para ampliar sua base de apoio religioso.
Fonte: BBC News Brasil