Enquanto propaganda oficial celebra novas moradias, mutuários enfrentam anos de espera, custos extras com aluguel e falta de transparência sobre o real andamento das obras.
O sonho da casa própria para famílias de baixa renda no ABC paulista tem se transformado em um pesadelo de incertezas e gastos imprevistos.
A razão são os sucessivos atrasos e paralisações em obras da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano), que mantém 5.171 unidades em construção na região, sem informar quantas delas estão com entregas atrasadas.
A falta de transparência esconde uma realidade crítica. Em Santo André, o Residencial Clara está completamente paralisado há pelo menos sete meses após a construtora original entrar em recuperação judicial.
As 480 famílias contempladas já acumulam um ano e oito meses de atraso na entrega das chaves. Em maio, a presidência da CDHU prometeu uma solução “em breve” para o caso. Cinco meses depois, a obra, 81% concluída, permanece abandonada.
Não muito longe dali, o Residencial João Ducin, também em Santo André, segue em obras, mas com um atraso de um ano e cinco meses, praticamente o dobro do prazo inicial. A previsão de entrega foi remarcada para janeiro de 2026.
Para os mutuários, o atraso significa um custo financeiro severo. André Morais, de 43 anos, auxiliar de TI, é um dos inscritos no João Ducin. Ele relata que o aluguel atual já “passou do seu limite”, e a renda familiar, composta por ele e a esposa, sofre para cobrir as despesas de um imóvel que, pelos planos iniciais, já deveria ser seu desde maio de 2024.
A psicóloga Milene Cristina Kail Soares, mutuária do Residencial Clara, já deveria estar em seu apartamento há mais de um ano e meio. A demora forçou-a a continuar no aluguel e, pior, a se mudar de um imóvel após o proprietário pedir a casa de volta.
Outra moradora de Santo André, que preferiu não se identificar, paga R$ 1,2 mil de aluguel enquanto aguarda a conclusão do Residencial Clara. “As pessoas pagam aluguel sendo que já poderiam estar no apartamento e pagar pelo que é seu”, critica.
Falta de informações – a CDHU não respondeu aos questionamentos sobre o número total de obras atrasadas ou paralisadas na região e no estado, tornando impossível dimensionar a extensão do problema. Um relatório da companhia revela que, apesar das promessas, nenhuma unidade habitacional foi entregue nas cidades como: Santo André, Diadema e Mauá nos últimos três anos.
A imagem pública de eficiência na entrega de moradias, muitas vezes associada a programas federais como o Minha Casa Minha Vida, não se sustenta na operação da CDHU no ABC, onde a falta de transparência e os atrasos crônicos deixam um rastro de ansiedade e prejuízo para aqueles que mais dependem do poder público para realizar o sonho da casa própria.
Fonte: Reporter Diário do ABC