O esporte, popularizado por campeonatos e atletas como Ramon Dino, move uma indústria que já é a segunda maior do mundo.
O fisiculturismo, antes considerado um esporte obscuro, transformou-se em um fenômeno no Brasil, impulsionando um mercado fitness bilionário que abrange academias, suplementos, roupas e assessorias esportivas.
A ascensão do esporte é ilustrada por histórias pessoais de superação, como a de Ruben Junior, que se inspirou em fisiculturistas aos 14 anos e se tornou atleta, e pelo sucesso de ícones nacionais, como o acreano Ramon Dino, campeão mundial do Mr. Olympia em uma das categorias mais importantes.
Crescimento Exponencial – o Brasil consolidou-se como o segundo maior mercado fitness do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Em uma década (2014 a 2023), o número de academias quase triplicou, passando de 19,3 mil para 56,8 mil. O faturamento anual estimado do setor varia entre R$ 8 bilhões e R$ 12 bilhões, com forte tendência de crescimento, de acordo com o Panorama Setorial Fitness Brasil 2024.
A indústria de suplementos alimentares acompanha esse ritmo acelerado. Com um crescimento de aproximadamente 70% entre 2019 e 2023, o setor movimentou R$ 4,3 bilhões e tem potencial para alcançar R$ 9,6 bilhões até 2028. Grandes empresas de alimentos têm investido em linhas saudáveis, e as marcas tradicionais de suplementos buscam se aproximar do consumidor médio
Profissionalização – a imagem dos fisiculturistas tem sido uma poderosa ferramenta de marketing. O interesse pela participação brasileira no Mr. Olympia, em Las Vegas (o país classificou 59 atletas, com 49 participando – um recorde), demonstra como o esporte “furou a bolha”, nas palavras de Mariane Morelli, CEO do grupo Supley (dono das marcas Max Titanium, Probiótica e Dr. Peanut).
Segundo a empresária, a suplementação no Brasil se popularizou a partir do fisiculturismo, em um crescimento “estrondoso” nos últimos anos. A Max Titanium patrocina 70 atletas e investiu R$ 5 milhões em um centro de treinamento exclusivo, em São Caetano do Sul.
O aumento da popularidade não é súbito, sendo resultado da chegada de grandes campeonatos internacionais ao país, da influência da internet e, surpreendentemente, da pandemia de COVID-19. O isolamento social levou parte da população a buscar um estilo de vida mais saudável, tornando o comprometimento e a disciplina dos atletas algo aspiracional.
A Musclecontest, uma das maiores organizações de competição do mundo, é crucial para a profissionalização, realizando cerca de cem campeonatos da categoria amadora (NPC) no Brasil anualmente, antes restritos a dois ou três por federação. Esse trabalho é vital para democratizar o acesso à carreira de atleta profissional e a obtenção do cobiçado “pro card”.
Os Desafios – a vida de fisiculturista é de rotina pesada, dieta rigorosa (com ingestão calórica que pode chegar a mais de 6 mil calorias/dia na fase de ganho de massa, ou bulking) e muito foco. Atletas como a sexta melhor do mundo na categoria Wellness, Valquiria Lopes, destacam que o esporte é caro, mas a profissionalização garante patrocínios e prêmios.
Apesar da ascensão, o setor lida com a preocupação do abuso de ergogênicos, especialmente os fármacos hormonais (como anabolizantes e “chips da beleza”), cujo uso para fins estéticos é proibido no Brasil. Segundo o nutricionista esportivo Rafael Morais, o acompanhamento médico é crucial para atletas, mas quem busca resultados rápidos sem a devida orientação corre sérios riscos de saúde.
A Experiência – academias de alto desempenho como a Ironberg, cofundada por Roberto Rautenberg (Betão), tornaram-se “academias de destino” ao se associarem a figuras do bodybuilding. O CEO Piter Demetrio ressalta que a convivência entre atletas famosos, como Ramon Dino, e o público comum (que representa 92% dos frequentadores) é um dos maiores atrativos.
Apesar do crescimento, o potencial de expansão é enorme: apenas 7% a 8% da população brasileira frequenta academias regularmente. A internet, com o conteúdo fitness em alta no YouTube, Instagram e TikTok, continua sendo um motor essencial para a popularização do fisiculturismo e dos negócios em seu entorno.
Fonte: Valor Econômico