Grupo exigia até R$ 3 milhões de empresários para evitar prisões forjadas; Justiça determina indenização de R$ 10 milhões por danos morais coletivos
A Justiça paulista condenou o delegado José Clésio Silva de Oliveira Filho a mais de 29 anos de prisão por chefiar uma organização criminosa responsável por um sofisticado esquema de extorsão contra empresários em Indaiatuba (SP). A sentença, proferida na última sexta-feira (17), é resultado das investigações da Operação Chicago, conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), que desmantelou o grupo ligado ao 1º Distrito Policial do município.
Além da pena de reclusão, o delegado e os demais envolvidos foram sentenciados à perda dos cargos públicos, ao pagamento de mais de R$ 600 mil em indenizações às vítimas e ao ressarcimento de R$ 10 milhões por danos morais coletivos ao Fundo do Estado de São Paulo. Os bens dos réus também deverão ser utilizados para cobrir os prejuízos causados.
Segundo o Ministério Público, a quadrilha composta por policiais civis, guardas municipais, advogados, servidores comissionados e empresários forjava investigações e flagrantes como forma de pressionar comerciantes locais a pagarem propinas que variavam de R$ 1 milhão a R$ 3 milhões para evitar falsas prisões.
As ações do grupo incluíam invasões a estabelecimentos sem mandado judicial, apreensão ilegal de mercadorias e intimidações dentro do próprio distrito policial, onde foi descoberta uma “sala de extorsão”. No local, detidos eram coagidos sob ameaça de acusações falsas, caso não efetuassem os pagamentos exigidos.
Advogados ligados ao esquema atuavam como intermediários, enquanto servidores públicos faziam contato direto com os alvos das extorsões. Mesmo após ser preso, o delegado José Clésio tentou obstruir as investigações: em outubro de 2024, o Gaeco flagrou o uso de um celular dentro do presídio para ordenar ameaças a vítimas e testemunhas, com o objetivo de forçá-las a mentir em juízo. A descoberta resultou em nova prisão preventiva decretada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) contra ele e um cúmplice, que foi detido com uma arma de fogo.
A Operação Chicago foi deflagrada em março de 2024 e contou com a participação de 15 promotores, 10 servidores do Ministério Público, 94 policiais militares e 19 policiais civis. Na ocasião, 13 dos 14 investigados foram presos preventivamente. O nome da operação faz alusão ao período de intensa atividade de gangues na cidade americana de Chicago nas décadas de 1920 e 1930, quando o crime organizado dominava a cidade com violência e corrupção.
O Ministério Público e as defesas ainda podem recorrer da decisão. A sentença ressalta que as ações dos condenados causaram sérios danos à imagem e à credibilidade da Polícia Civil do Estado de São Paulo.
Fonte: g1.com