Estudo liderado por pesquisadora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas identifica que toxina da armadeira pode atravessar barreira do cérebro e atuar no controle de tumores em humanos e animais.
O veneno de uma das aranhas mais temidas do mundo, a armadeira (Phoneutria nigriventer), pode se transformar em uma importante aliada no tratamento de cânceres agressivos, como o cerebral e o de mama. A descoberta foi feita por uma equipe da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sob liderança da pesquisadora Catarina Raposo, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF).
Conhecida por sua alta toxicidade e por provocar reações severas no sistema nervoso, a armadeira é nativa da América do Sul e carrega em seu nome científico a origem grega Phoneutria, que significa “assassina”. Apesar da letalidade, especialmente em crianças, os cientistas enxergam na composição do veneno uma oportunidade única de inovação médica.
Segundo o estudo, componentes da toxina têm a capacidade de abrir temporariamente a barreira hematoencefálica uma estrutura natural que protege o cérebro, mas que também impede a entrada de muitos medicamentos. Esse bloqueio representa um dos principais obstáculos no tratamento de tumores cerebrais, como os gliomas.
“O que entra e o que sai do sistema nervoso central é muito controlado. E isso é uma limitação para os tratamentos. Existem medicamentos promissores que não conseguem alcançar o cérebro por causa dessa barreira”, explica Raposo.
Durante os testes, a toxina foi capaz de atravessar essa barreira por até 12 horas, tempo suficiente para permitir a entrada de substâncias terapêuticas e interferir na progressão de tumores. O estudo identificou ainda que a ação se concentra nos astrócitos, células da glia que desempenham papel fundamental no suporte e nutrição dos neurônios.
Além do glioma, os pesquisadores também observaram resultados positivos em modelos de câncer de mama, o que amplia as possibilidades de aplicação da descoberta. A pesquisa continua em andamento, com o objetivo de isolar os princípios ativos responsáveis pela ação benéfica, reduzindo os riscos associados à toxicidade do veneno puro.
O estudo reforça o potencial da biodiversidade brasileira como fonte de novos medicamentos e terapias inovadoras, especialmente a partir de organismos que, até então, eram vistos apenas como perigosos.
Fonte: g1.com