A análise da Balança de Pagamentos brasileira (2020-2025) revela um déficit em Conta Corrente persistente e estrutural, principalmente devido à conta de renda e às remessas de lucros e dividendos.
Este artigo se propõe a analisar a evolução recente da Balança de Pagamentos (BP) brasileira, com foco na Conta Corrente (CC), entre os anos de 2020 e a projeção para 2025. A análise baseia-se em dados consolidados (2020-2024) e nas projeções do Banco Central (BC) e de instituições financeiras privadas para 2025, destacando a relação crítica entre o déficit em CC e seu financiamento via Investimento Direto no País (IDP).
Evolução do Déficit em Conta Corrente (2020-2024)
A série histórica das transações correntes do Brasil no período de 2020 a 2024 demonstra uma oscilação significativa no saldo, refletindo a interação complexa entre a balança comercial de bens e os saldos deficitários das contas de serviços e, notadamente, de renda.

O ano de 2024 ilustra a vulnerabilidade estrutural da Conta Corrente: a queda de mais de US$ 30 bilhões no saldo comercial (de US$ 98,8 bi em 2023 para US$ 66,2 bi em 2024) resultou em um aumento do déficit em CC de US$ 31,5 bilhões (de -US$ 24,5 bi para -US$ 56,0 bi), confirmando a dependência do saldo externo brasileiro da performance da balança de bens.
Pressão Estrutural – a principal força motriz por trás do déficit em conta corrente brasileiro reside na conta de renda, notadamente nas remessas de lucros e dividendos (L&D), pois uma parte significativa das privatizações para o capital estrangeiro ocorreu no setor de serviços: manutenção de estradas, distribuição de energia, saneamento básico e outros, empresas que não exportam, portanto não geram divisas para o Brasil, porém remetem ao exterior grandes valores de dólares.
Déficit Acumulado: o déficit em conta corrente acumulado em 12 meses alcançou a marca de US$ 78,9 bilhões, o equivalente a 3,61% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo dados divulgados em setembro, indicando que a pressão sobre as contas externas se manteve em patamares historicamente elevados no decorrer de 2025.
- Projeção e Pressão de Remessas: As projeções do Banco Central (BC) para o fechamento de 2025 estimam um déficit em CC de US$ 70 bilhões. Desse valor, US$ 43 bilhões devem vir das remessas de L&D acumuladas no período. A concentração de remessas no final do ano aumenta a pressão sobre as contas externas nos últimos meses, o que tem levado economistas a revisarem para cima suas projeções para o déficit de 2025 (viés de alta).
Financiamento do Déficit: a sustentabilidade do déficit em CC depende diretamente de sua contraparte na Balança de Pagamentos: a Conta Financeira. O Investimento Direto no País (IDP)—fluxo de longo prazo voltado à produção—é o principal e mais estável item de financiamento do Brasil.
O Banco Central projeta que o IDP também atingirá US$ 70 bilhões em 2025. Essa equivalência é um fator de estabilidade, pois indica que, na projeção oficial, o déficit em CC será integralmente coberto por capital de longo prazo, considerado menos volátil.
A análise da Balança de Pagamentos brasileira (2020-2025) revela um déficit em Conta Corrente persistente e estrutural, principalmente devido à conta de renda e às remessas de lucros e dividendos.
Fonte: Valor Ecônomico e Folha de S. Paulo







