Desenvolvido com células-tronco do cordão umbilical, o Mensencure promete acelerar a cicatrização de feridas crônicas e queimaduras graves; expectativa é de que chegue ao mercado até 2027.
Um biocurativo tridimensional desenvolvido por pesquisadoras de Ribeirão Preto (SP) está prestes a entrar na etapa final antes de chegar aos hospitais. Chamado de Mensencure, o produto foi criado a partir de células-tronco mesenquimais retiradas do cordão umbilical e poderá beneficiar até 5 milhões de brasileiros que convivem com feridas crônicas e não respondem a tratamentos convencionais.
Segundo a bióloga Carolina Caliari, CEO da startup In Situ, responsável pelo desenvolvimento, o biocurativo já concluiu todos os testes laboratoriais e agora passa pela fase de documentação junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Por ser classificado como uma terapia avançada, o produto precisa comprovar rigorosamente sua segurança e eficácia antes de ser testado em humanos.
O Mensencure age diretamente na regeneração dos tecidos e pode ser aplicado em feridas de pacientes com diabetes, em úlceras de difícil cicatrização e em queimaduras graves. A bióloga explica que o tratamento utiliza o próprio potencial regenerativo das células: “Essas células já têm, naturalmente, a capacidade de promover a cicatrização da pele e de outros tecidos. Nós apenas aproveitamos essa habilidade de forma controlada e segura.”
O processo de fabricação combina as células-tronco com um hidrogel, que é então impresso em 3D. O resultado é um curativo transparente e flexível, semelhante a uma lente gelatinosa, com cerca de 80 centímetros quadrados, tamanho médio de um celular. A impressão leva cerca de 30 minutos, e a aplicação é única, já que o material é absorvido pela pele durante o processo de cicatrização.
De acordo com a bióloga Adriana Oliveira Manfiolli, CTO da In Situ, o produto não será vendido em farmácias e deverá ser utilizado exclusivamente em ambiente hospitalar. “A membrana é compatível com a pele e, ao ser absorvida, permite que as células ajam diretamente no local da ferida, sem necessidade de trocas ou reaplicações”, explica.
Atualmente, o mercado oferece diferentes alternativas para o tratamento de feridas, como pomadas, géis, coberturas especiais e curativos a vácuo. No entanto, uma grande parcela dos pacientes não responde adequadamente a essas opções, permanecendo com lesões por semanas, meses ou até anos.
“Nossa meta é que o biocurativo possa resolver, de fato, o problema desses pacientes refratários”, afirma Carolina Caliari. “Queremos entregar uma solução viável e acessível, que una tecnologia e resultados reais.”
Se aprovado pela Anvisa, o Mensencure deve começar a ser testado em humanos nos próximos anos, com previsão de chegar ao mercado até 2027. O avanço representa um passo importante para a biotecnologia brasileira, trazendo esperança para milhões de pessoas que vivem com feridas crônicas e ainda aguardam um tratamento eficaz.
Fonte: g1.com








