Um mês após as primeiras intoxicações e mortes, a apuração policial ainda não desmontou a rede responsável pela produção e distribuição de bebidas falsificadas no estado.
Um mês se passou desde o início da crise de intoxicação por metanol, e a tragédia continua a se expandir pelo país, com o número de mortes subindo para 15, sendo nove somente no estado de São Paulo.
Enquanto as vítimas aumentam, a lentidão e a falta de fiscalização eficaz sobre o comércio de bebidas permitiram que se revelasse uma organização criminosa sofisticada e enraizada na produção e distribuição de bebidas falsificadas em território paulista.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirma que as investigações estão em andamento e cita uma operação deflagrada há duas semanas. Na ocasião, a Polícia Civil identificou dois postos de combustíveis, um em São Bernardo do Campo e outro em Santo André, suspeitos de fornecer etanol adulterado com metanol para uma fábrica clandestina. A responsável pela fábrica foi presa.
A prisão de uma única pessoa e a identificação de dois postos representam um avanço mínimo perante a escala do surto, que intoxicou pessoas em pelo menos 15 bairros da capital paulista, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde.
Na cidade de São Paulo, quatro estabelecimentos seguem interditados (Cidade Dutra, Mooca, Sacomã e Ermelino Matarazzo), e um bar no Jardim Paulista foi proibido de vender destilados. As interdições, contudo, são consequências reativas às intoxicações, não fruto de uma ação preventiva e sistemática do poder público.
Ponta do Iceberg – a dimensão geográfica dos casos, espalhados por bairros distantes entre si e por vários municípios paulistas , aponta para uma rede de distribuição bem estruturada, e não para fabricantes isolados.
A capacidade de produzir, embalar e distribuir bebidas falsas que chegaram a bares e pontos de venda em diferentes regiões sinaliza um crime organizado com logística complexa.
O fato de o delegado responsável ter afirmado, na época da operação, não ter encontrado indícios de facções como o PCC, longe de tranquilizar, levanta mais questões: qual é, então, a organização por trás deste esquema que intoxicou e matou dezenas de pessoas?
A crise do metanol escancarou uma realidade sombria: a fiscalização sobre a produção e venda de bebidas alcoólicas no estado de São Paulo é insuficiente para coibir uma indústria criminosa que opera com sofisticação.
Enquanto as autoridades não forem capazes de desmontar toda a cadeia, da produção da substância tóxica à sua distribuição nos balcões, a população continuará sob o risco de ser a próxima vítima.
Fonte: Folha de S. Paulo
