As renúncias fiscais para empresas e setores privilegiados, ou seja “bosa empresários” já representam 4,6% do PIB e um quarto de toda a arrecadação federal.
O chamado “bolsa empresário” — termo usado para se referir ao volume de gastos tributários do governo federal — alcançou proporções inéditas. Segundo levantamento do economista Bruno Carazza, professor da Fundação Dom Cabral (FDC), o valor dessas desonerações deve chegar a R$ 587,4 bilhões em 2025, mais de quatro vezes o orçamento previsto para o Bolsa Família, de R$ 155,6 bilhões.
Em duas décadas, o montante mais do que quintuplicou em valores reais, configurando um dos maiores subsídios indiretos do país. Os gastos tributários correspondem a 4,6% do PIB e a 25% de toda a arrecadação federal — cifra superior a despesas obrigatórias como pessoal e encargos sociais e até ao déficit previdenciário.
Carazza explica que esses gastos funcionam como uma forma de política pública invisível: o Estado deixa de arrecadar ao conceder isenções, alíquotas diferenciadas, regimes especiais e outras desonerações a determinados grupos econômicos. O problema, segundo especialistas, é que a maior parte desses benefícios não passa por avaliação de resultados nem por critérios claros de impacto social ou econômico.
Críticos chamam o fenômeno de “Bolsa Empresário” justamente para evidenciar o contraste com programas sociais submetidos a constantes revisões e condicionalidades. Enquanto o Bolsa Família é frequentemente debatido sob o prisma da “responsabilidade fiscal”, os subsídios empresariais seguem crescendo em silêncio, sem contrapartidas mensuráveis.
Em um cenário de restrições orçamentárias e disputa por recursos, o dado expõe uma contradição estrutural nas prioridades do Estado brasileiro: ao mesmo tempo em que se exige austeridade nas políticas sociais, mantém-se intocado um sistema de privilégios tributários bilionários — cuja eficácia, até hoje, segue sem comprovação.
Fonte: Valor Econômico e Fudação Dom Cabral







