Ministério Público solicita imagens de câmeras corporais e de vigilância para apurar invasão e ameaça contra educadores da Emei Antônio Bento por causa de desenho sobre mitologia afro-brasileira.
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) deu início a uma apuração sobre um grave caso de abuso de autoridade e intimidação ocorrido na Escola Municipal de Ensino Infantil (Emei) Antônio Bento, no bairro de Caxingui, zona oeste da capital paulista.
O episódio envolve um sargento da Polícia Militar (PM), pai de uma aluna, que rasgou um mural da escola e, no dia seguinte, resultou na invasão da unidade por quatro policiais militares armados, um deles portando uma metralhadora, para questionar e ameaçar a diretora e educadores. O centro da controvérsia foi uma atividade escolar sobre a mitologia dos orixás na cultura afro-brasileira.
Intimidação e vandalismo do Sargento – o caso se iniciou no último dia 11, quando o pai da aluna, um sargento da PM, foi até a escola. Ele teria intimidado a diretora por causa de um desenho que a própria filha teria feito para a atividade. Além da intimidação, o militar rasgou uma parte do mural preparado pelas crianças, configurando um ato de vandalismo contra o patrimônio da escola e o trabalho pedagógico.
Invasão armada – a situação escalou drasticamente no dia seguinte. Quatro policiais militares foram armados à Emei Antônio Bento, um deles com uma metralhadora, e começaram a questionar a diretora sobre o episódio anterior. Os agentes teriam alegado ter recebido denúncia de que a escola estaria forçando o ensino religioso nas crianças.
A ação, que se configura como uma evidente intimidação à equipe escolar por parte de agentes do Estado, causou profundo impacto na unidade. A diretora da escola, após o ocorrido, precisou pedir licença médica e foi temporariamente afastada do trabalho, alegando estar enfrentando problemas de saúde mental.
A apuração é conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Educação (Geduc) do MP-SP, que também acionou a Promotoria da Justiça Militar. A investigação atende a um pedido formal protocolado por parlamentares do PSOL (a deputada federal Luciene Cavalcante, o deputado estadual Carlos Giannazi e o vereador Celso Giannazi).
O Ministério Público tomou medidas firmes para elucidar o caso, requisitando:
- Ao Governo Tarcísio de Freitas (Republicanos)/SSP: as imagens das câmeras corporais dos policiais militares envolvidos na invasão, a identificação formal desses agentes e a confirmação da situação funcional do pai da aluna na PM.
- À Gestão Ricardo Nunes (MDB)/Secretaria Municipal de Educação: as gravações das câmeras de vigilância da unidade que registraram o ato de vandalismo e a posterior ação policial, a identificação formal do pai da aluna e informações sobre o suporte oferecido aos profissionais da unidade após o trauma.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) do governo Tarcísio informou que a Polícia Militar instaurou apuração sobre a conduta da equipe, que inclui a análise das imagens das câmeras corporais. Além disso, a SSP confirmou que a professora da unidade registrou Boletim de Ocorrência por ameaça contra o pai da estudante.
A gestão Nunes, por meio da Secretaria Municipal de Educação, comunicou que a diretora será substituída pela assistente de direção e que a escola está recebendo acompanhamento especializado de núcleos como o Núcleo de Apoio e Acompanhamento para a Aprendizagem e o Núcleo de Educação para as Relações Étnico-Raciais, para o suporte necessário.
Fonte: Folha de S. Paulo
