Com o ex-presidente inelegível, aliados e familiares intensificam movimentos para herdar seu capital político, que ainda é um dos maiores do país.
A prisão preventiva de Jair Bolsonaro e sua condenação por tentativa de golpe de Estado não reduziram de imediato seu peso político. Mesmo inelegível, o ex-presidente ainda liderava a direita em pesquisas recentes e aparecia tecnicamente empatado com Luiz Inácio Lula da Silva em um cenário hipotético de segundo turno em 2026, segundo levantamento Quaest realizado antes da prisão. O ex-presidente registrava 39% das intenções de voto, contra 42% de Lula.
Especialistas afirmam que ainda não é possível medir se a prisão ou o episódio envolvendo a tornozeleira eletrônica desgastaram a relação do ex-presidente com seu eleitorado mais fiel. Para Pablo Ortellado, professor de políticas públicas da USP, o quadro permanece indefinido. Ele avalia que nenhum nome da direita consegue se viabilizar nacionalmente sem a chancela de Bolsonaro, o que abre uma disputa intensa por sua herança política entre governadores aliados, filhos e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Com a proximidade do prazo para que governadores deixem seus cargos caso queiram concorrer ao Planalto, Bolsonaro tem pouco mais de quatro meses para definir um sucessor. Do ponto de vista estratégico, analistas avaliam que a escolha já está atrasada. Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, reuniu a cúpula partidária em encontro fechado no qual estavam Michelle e os filhos Carlos, Flávio e Jair Renan, numa tentativa de organizar o partido diante do vácuo deixado pelo ex-presidente.
Nos últimos dias, Flávio Bolsonaro assumiu protagonismo. Ele liderou a vigília pela libertação do pai e acabou preso previamente em uma sala da Polícia Federal em Brasília, antes mesmo do início do cumprimento da pena de 27 anos do ex-presidente. Para Creomar de Souza, professor da Fundação Dom Cabral, o senador é quem melhor transita no ambiente político tradicional entre os filhos de Bolsonaro. O analista avalia que Flávio ampliou sua influência à medida que o deputado Eduardo Bolsonaro perdeu espaço, especialmente em razão de erros na condução de temas internacionais.
Até recentemente, Eduardo se apresentava como o sucessor mais ativo do pai. Ele chegou a afirmar nos Estados Unidos que trabalhava pela anistia de Bolsonaro junto ao governo de Donald Trump. Embora insistisse publicamente que o pai seria candidato, passou pouco depois a se declarar herdeiro natural, alegando perseguição jurídica. Sua situação, entretanto, se deteriorou após virar réu no STF por coação no curso de processo. Para Souza, Eduardo se tornou inviável politicamente, já que não seria visto como capaz de circular pelo país sem risco de prisão.
Enquanto isso, Michelle Bolsonaro percorre o Brasil à frente do PL Mulher e mantém forte apelo entre a base conservadora, posicionando-se como uma das principais alternativas internas. Em paralelo, cresce também a força do governador Tarcísio de Freitas, apontado por setores da direita e por pesquisas como favorito para ocupar o espaço deixado pelo ex-presidente.
Com o cenário ainda nebuloso, a direita se movimenta em ritmo acelerado para construir um nome competitivo para 2026. A família Bolsonaro tenta ocupar esse espaço antes que outros o façam, num momento em que o capital político do ex-presidente continua relevante, mesmo atrás das grades.
Fonte: agazeta.com.br







