Rejeição à PEC da Blindagem, aumento de privilégios e reação do Senado à onda de críticas impulsionam mobilização digital que já acumula mais de 400 mil menções nas redes.
A hashtag #CongressoInimigoDoPovo ganhou ainda mais tração nas redes sociais nos últimos meses e se tornou símbolo de um crescente desgaste entre a população e o Congresso Nacional. A cada nova votação considerada benéfica à elite política, a expressão volta ao topo das plataformas digitais, acompanhada de críticas sobre impunidade, privilégios e distanciamento dos parlamentares em relação às demandas populares.
O estopim da última onda de mobilização foi a aprovação, pela Câmara dos Deputados, da PEC da Blindagem, em setembro de 2025. O texto previa a necessidade de autorização prévia — e por voto secreto — do Congresso para que parlamentares pudessem ser processados criminalmente. A proposta, vista por juristas e movimentos sociais como um retrocesso democrático, foi aprovada em dois turnos na Câmara com 353 votos no primeiro turno e 344 no segundo.
A repercussão negativa culminou em protestos em todas as capitais do país no dia 21 de setembro. Três dias depois, diante da pressão popular, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado rejeitou por unanimidade a proposta, que acabou definitivamente arquivada.
Mesmo após a derrota da PEC, o clima de insatisfação persistiu. Em junho, o Congresso derrubou vetos presidenciais a projetos que ampliavam gastos públicos e aprovou um aumento de R$ 164,8 milhões no Fundo Partidário, o que reforçou críticas de que o Legislativo estaria priorizando interesses próprios em detrimento das necessidades da população.
Esses episódios alimentaram a campanha digital que, segundo monitoramentos citados por apoiadores do movimento, já ultrapassa 1,4 milhão de publicações. Apenas a hashtag #CongressoInimigoDoPovo soma mais de 408 mil citações, enquanto outras relacionadas, como #CongressoDaMamata, #HugoMottaTraidor e #RicosPaguemAConta, também ganharam força. Em junho, o tema alcançou o topo dos trending topics do X (antigo Twitter), com mais de 260 mil menções e 1,4 milhão de interações.
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), tornou-se o principal alvo dos protestos online, frequentemente retratado como símbolo do afastamento do Congresso em relação às pautas sociais.
A escalada das críticas levou o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), a anunciar em plenário, na última quinta-feira (5 de dezembro), que as polícias legislativas da Câmara e do Senado estão investigando os autores das postagens consideradas ofensivas ao Congresso. Ele afirmou que tornará públicos os nomes dos responsáveis, o que provocou nova reação negativa.
Especialistas em liberdade de expressão alertam que a iniciativa levanta preocupações constitucionais. O advogado André Matheus, vice-presidente da comissão de lawfare do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), lembra que o Supremo Tribunal Federal, desde a ADPF 130, reconhece a crítica política como parte do núcleo essencial da liberdade de expressão. Ele destaca ainda que instituições públicas não possuem honra subjetiva, o que impede a configuração de crimes contra a honra nesses casos.
A onda de mobilização digital reflete um cenário mais amplo de descrença no Parlamento. Uma pesquisa AtlasIntel citada por grupos envolvidos na campanha indica que 81% dos brasileiros não confiam no Congresso Nacional.
Com a crescente repercussão das hashtags e a forte reação institucional do Legislativo, a disputa sobre os limites da crítica política e da atuação parlamentar deve continuar ocupando espaço no debate público nos próximos meses.
Fonte: Congresso em Foco – O Globo







