Alta dos alimentos, especialmente da carne, e reajustes em serviços públicos pressionam os preços, apesar do forte recuo em relação ao cenário herdado em 2023
Dois anos após a chegada de Javier Milei à Presidência da Argentina, a inflação deixou de ser o problema mais agudo da economia, mas ainda segue em um patamar elevado e resistente à queda. Dados divulgados na última quinta-feira (11) pelo Indec (Instituto Nacional de Estatística e Censos) mostram que a variação mensal de preços foi de 2,5% em novembro, uma leve aceleração em relação a outubro, quando o índice havia sido de 2,3%, e o maior nível desde abril, quando alcançou 2,8%.
Segundo o IPC (Índice de Preços ao Consumidor), a inflação acumulada em 12 meses chegou a 31,4%, enquanto no acumulado do ano o avanço é de 27,9%. Com isso, o ministro da Economia, Luis Caputo, ainda não conseguiu interromper a trajetória de alta iniciada em agosto, quando a inflação mensal foi de 1,9%.
A consultoria Eco Go aponta que a principal pressão veio do aumento de 3% na categoria de alimentos e bebidas não alcoólicas, impulsionado sobretudo pela alta da carne, produto essencial no consumo das famílias argentinas. Embora o encarecimento já fosse perceptível em outubro, em novembro a situação se intensificou, levando os alimentos consumidos em casa a uma alta de 2,6%.
Por outro lado, promoções de fim de ano ajudaram a conter os preços de eletrônicos e eletrodomésticos, que avançaram apenas 1,1%. Em contrapartida, serviços regulados, como transporte público, eletricidade e gás, registraram aumentos mais expressivos, de 3,4%, acima do observado nos meses anteriores. Após a vitória do governo nas eleições legislativas de outubro, o Ministério da Economia autorizou novos reajustes em tarifas de serviços públicos e transporte.
Milei completou dois anos de mandato agora em dezembro, após assumir a Presidência em 10 de dezembro de 2023. Antes da chegada do partido A Liberdade Avança ao poder, a inflação mensal em novembro de 2023 era de 12,8%, e a variação em 12 meses alcançava 160,9%. Uma das primeiras medidas do novo governo foi a forte desvalorização da taxa de câmbio oficial, de 366 pesos argentinos para 800 pesos por dólar. Atualmente, a cotação oficial está em torno de 1.440 pesos por dólar.
O impacto inicial da política econômica foi severo: em dezembro de 2023, a inflação mensal disparou para 25,5%, o maior índice em 32 anos, e o ano terminou com uma inflação acumulada de 211,4%.
Para dezembro deste ano, as expectativas do mercado apontam para uma inflação de 2,1%. Entre janeiro e abril de 2026, a projeção é de variações mensais entre 1,5% e 1,9%. Ainda assim, economistas alertam para a chamada “inflação reprimida”, atualmente estimada em 4,2 pontos percentuais, com os maiores ajustes pendentes concentrados em serviços públicos como energia elétrica e gás, além de transporte, telefonia e combustíveis.
Fonte: Folha de S. Paulo







