Corredor bilionário do tráfico mantém “paz silenciosa” em algumas cidades, mas rompeu o equilíbrio em Rio Claro, onde facções rivais disputam lucro e poder
O interior de São Paulo é cruzado por um dos principais corredores do tráfico internacional de drogas do país, conhecido como “Rota Caipira”. Por ela, cocaína produzida na Bolívia e no Peru entra no Brasil pela fronteira com o Paraguai e segue rumo aos portos do Atlântico.
As rodovias Washington Luís, Anhanguera e Bandeirantes são usadas como verdadeiras artérias desse sistema, por onde circulam caminhões, carros, motos e até pequenos aviões.
Durante quase 30 anos, essa rota foi controlada de forma quase absoluta pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Em cidades como São Carlos e Araraquara, esse domínio segue intacto. O resultado é o que especialistas chamam de “Pax Monopolista”: o crime atua de forma discreta, evitando roubos visíveis, proibindo manobras de moto e reduzindo conflitos para não chamar a atenção da polícia.
Para a facção, a lógica é simples: menos guerra, mais lucro. Investigações indicam que essa estrutura rende mais de R$ 1 bilhão.
Mas Rio Claro virou uma exceção perigosa nesse mapa. Desde 2022, a cidade passou a viver uma disputa aberta após o surgimento do Bonde do Magrelo, grupo formado por dissidentes do PCC. Ao romper com a facção paulista, eles perderam o fornecimento de drogas e buscaram apoio no Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro. A aliança foi puramente econômica: o CV ganhou espaço em São Paulo e o grupo local conseguiu armas e drogas para sustentar o confronto.
O efeito foi imediato. Execuções em plena via pública se tornaram frequentes e a taxa de homicídios de Rio Claro chegou a ser quase três vezes maior que a média do estado. Até outubro de 2025, foram registrados 25 assassinatos.
A guerra também revelou estruturas de apoio, como um entreposto em Hortolândia, usado para armazenar fuzis e drogas que abasteciam o conflito.
Especialistas comparam o crime organizado a uma grande empresa de logística. Enquanto o PCC atua como uma “matriz”, que prefere estabilidade para garantir o fluxo de mercadorias e dinheiro, o Bonde do Magrelo funcionaria como uma “franquia rebelde”, aliada a um concorrente externo.
O resultado foi transformar um ponto estratégico da Rota Caipira em um campo de batalha.
Em resumo, o mesmo asfalto que leva a riqueza do agronegócio também sustenta um mercado ilegal bilionário. Onde há monopólio, reina o silêncio. Onde ele é rompido, como em Rio Claro, o lucro dá lugar ao barulho das armas.
Fonte: G1 São Carlos







