No ano de 1820, José Ferreira da Silva e sua mulher Florência Maria de Jesus, venderam seus pertences em Minas Gerais à procura de um novo local no interior de São Paulo. Católicos fervorosos, antes da partida, invocaram a proteção de Nossa Senhora do Belém, guia daqueles que buscam novas terras, e partiram levando com eles uma pequena imagem da Santa de sua devoção, que os conduziu ao sertão de Araraquara, onde adquiriram a Fazenda Areias, hoje Descalvado.
Cultivaram e progrediram na terra. Porém, no ano de 1832, Florência adoeceu e para a sua recuperação o casal fez um voto para a Virgem de Belém: construir uma Capela em sua devoção no alto da colina localizada no meio da fazenda, mandando entalhar em madeira maciça uma imagem da Santa, que tivesse a altura e o peso de Florência e mais, doar um patrimônio de três quilômetros e meio em quadra, terras essas que seriam vendidas a quem quisesse construir, revertendo o dinheiro para a Capela de Nossa Senhora do Belém.
No dia 8 de setembro do mesmo ano, seria inaugurada a modesta Capela feita de pau a pique em cujo altar introduziram a pequena Santa que trouxeram de Minas, imagem esta que seria substituída pela de madeira maciça, tão logo ficasse pronta.
Teve início então o povoado que deu origem à nossa cidade. No dia 10 de novembro de 1842, José ferreira e Florência passam a escritura definitiva das terras em um cartório da cidade de Rio Claro, mesmo ano em que o Padre Jeremias José Nogueira, concedeu a benção à Capela, transformando-a em Igreja.
Não se sabe se José Ferreira da Silva chegou a encomendar a Imagem, mas é certo que até sua morte em 1860, a promessa não se concretizou. Somente anos mais tarde, quando uma terrível epidemia de varíola ameaçou o município, relacionaram o fato a não realização do voto religioso. Foi quando, por volta de 1885, a imagem definitiva de Nossa Senhora do Belém acabou por chegar a Descalvado, proveniente de Rio Claro, conduzida pessoalmente pelo Capitão Benvindo Gonçalves Franco, em carro de boi de sua propriedade.
O historiador Prof. Gerson Álfio De Marco conta: “Desconhecido é o nome do autor da Imagem da Padroeira, como desconhecidos são sua procedência inicial, o nome do seu doador e o ano de sua chegada entre nós. Já se expenderam as mais diversas hipóteses a respeito de sua origem (veio da Itália, disse alguém; da Espanha disse outro) e no que concerne à sua autoria (é do cingel do Aleijadinho, avançou outro). Pela perfeição do trabalho, não é dizer-se nada de desconexo afirmar-se que a fez um grande artista (da religiosíssima Itália, da generosa Espanha ou o nosso Aleijadinho, o que sendo, seria uma das mais perfeitas obras saídas de suas mãos enfermas, mas altamente criadoras). Nada no entanto é certo, a não ser que a Virgem do Belém foi trazida a Descalvado sobre um lento e poético carro de bois, vindo da Bahia (mas não feita nela) e através de Rio Claro, onde ficou vários meses antes da viagem final”.
Desde então, a cidade progrediu, se desenvolveu, vivenciou diversos ciclos econômicos, e oferecendo hoje uma boa qualidade de vida à sua população, ocupando a 117ª posição na lista de 5.570 municípios brasileiros com alto índice de desenvolvimento, segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro.
Em 9 de abril de 2.001 o Pároco Ângelo Francisco Rossi preocupado com a conservação da Imagem Original, um verdadeiro patrimônio da população, mandou esculpir em São João Del Rey (Minas Gerais) uma repica da imagem, pelo artista escultor Osni Paiva ao custo de R$ 3.800,00. A imagem menor e mais leve (1,20 metros) é conduzida em procissões e outros atos religiosos públicos, evitando assim que a original seja deslocada do altar da Igreja Matriz.
Descalvado News
*Fonte: Livro Conheça Descalvado, de Luiz Carlindo Arruda Kastein