A igualdade tem cor? Diria, que há muitas cores, que impedem a igualdade de alcançar seu patamar elevado entre os humanos. Mas nem por isso é preciso esmorecer e desmerecer a luta. Recentemente, o brasileiro Wendell Lira provou isso em seu rápido discurso, após ganhar o prêmio Puskas, com o gol mais bonito marcado em 2015, jogando pelo modesto Goianésia. “Golias apareceu, todo mundo dizia que ele era muito forte, e por isso não tinha como ganhar dele. Davi falou: ele é muito grande, então não tem como errar. É assim que devemos lidar com nossos problemas diários”. O brasileiro citou a narrativa bíblica de Davi e Golias em analogia ao seu feito.
Quantos Golias são necessários vencer para alcançar a vitória? Cada herói sabe quais. Há muitos heróis anônimos, que têm enfrentado o Golias do preconceito, da discriminação, da injustiça, da desigualdade! São homens e mulheres que nem sequer saem na mídia enaltecendo a conquista da honra, como foi o caso de Wendell Lira. No entanto, nem por isso deixam de ser os heróis da liberdade e da honra. Às vezes, não haverá uma plateia no mundo inteiro assistindo o discurso da glória, a ponto de deixar gigantes boquiabertos, como foi o caso do jogador Kaká, que assim assistia ao discurso de Wendell, mas há um exército invisível, de seres celestiais, participando de nossas batalhas, guerreando conosco, somente para favorecer os sonhos mais preciosos da alma.
E a cada herói em silêncio, há um universo como expectador para os artistas da vida. Até mesmo em meio as injustiças, como recentemente aconteceu comigo, embora isso não seja novidade. Alguém me parou e quis saber como fui no concurso para assistente social, realizado pela prefeitura de Porto Ferreira. Respondi que fui razoavelmente bem. Diante da reposta, a pessoa ficou surpresa e declarou: “Puxa! Pensei que você tinha recebido o gabarito para passar”. A insinuação me deixou mais surpreso ainda. Mas nesse palco de emoções, de injuria e calúnia, o melhor é manter o bom humor. Dentro desse requisito, respondi: “Bom… Quem me passou o gabarito, esqueceu de me passar as questões de informática, porque não acertei uma”.
Estamos em um mundo de desigualdade moral, ética e emocional. As pessoas costumam julgar as demais, pelos padrões de vida que vivem. A luta para chegar a ser um assistente social, é apenas um pano de fundo nessa guerra de emoções. Mas igualdade ética não se faz com especulações, se faz com ato. E até agora, posso erguer a minha fronte e chamar os céus como testemunha, se alguma vez caminhei pela viela da desconstrução moral. No entanto em uma sociedade que cheira “esgoto vivo”, parece que todos estão corrompidos, que ninguém pode lutar bravamente para alcançar seus sonhos, porque assim fazendo, o que predomina é a desconfiança.
Mas como escreveu Pero Vaz de Caminha: “Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. Porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar”. (Alex de Souza Magalhães é formado em Serviço Social; poeta, escritor, Autor do livro O Sucateamento do Famoso Paraíso dos Sonhos Humanos).