Porto Ferreira não foi uma cidade edificada na época imperial, com aqueles casarões ricos em detalhes, imitando as casas-grandes de fazendas. O município teve origem na República Velha e algumas dificuldades econômicas afetaram o seu desenvolvimento logo nas primeiras duas décadas de sua emancipação.
Sobre as casas e os monumentos desaparecidos com o passar dos anos, selecionei uma imagem de importante residência para a localidade: a moradia de Daniel de Oliveira Carvalho, um português, natural de Vila Real, Trás-os-montes, mas que se considerava ferreirense.
Construída na esquina das Ruas Rangel Pestana com Bernardino de Campos (Mathias Gomes Cardoso com Cel. Procópio de Carvalho), contendo diversas janelas e portas para a rua, típica arquitetura da época, no imóvel funcionaram serviços essenciais.
Do lado da Rua Mathias G. Cardoso, Daniel possuiu as suas serralheria e ferraria. A partir de 1907, seu genro, Manoel F. Rodello, abriu uma oficina de ferreiro.
Até 1900, a Agência dos Correios ali estava instalada, sob gerência do proprietário da casa e de seu filho primogênito, Manoel da Silva Oliveira, o Manequinho, que era estafeta.
O Centro Telefônico também teve o seu espaço naquele local, depois da metade de 1909 até 1928, sob responsabilidade de Joaquim da Silva Oliveira, outro filho de Daniel.
Além da exploração comercial do imóvel, ainda no lado da mencionada rua, a população da pequenina cidade tinha acesso, de fins da década 1880, por volta de 1905 e nos seguintes anos, às exibições do Grupo Dramático e Literário “7 de Setembro”, onde o professor Henrique da Mota Fonseca Júnior expandia a sua criatividade, compondo e encenando peças do teatro amador na companhia do anfitrião da casa, do vizinho David Zadra e de outros amigos.
Os registros civis de nascimento, casamento e óbito também foram lavrados nessa casa: de junho de 1892 até agosto de 1922, tendo Daniel como escrivão. Seu filho, Joaquim da Silva Oliveira, continuou com o ofício até maio de 1923, e em seu lugar, até março de 1928, preencheu o cargo o filho Urbano da Silva Oliveira.
Na esquina, com a frente para a Rua Cel. Procópio de Carvalho, estava instalada a barbearia, de propriedade de Antonio Pinto Dias, e que também pertenceu aos filhos de Daniel, Joaquim e Mário. E por fim, a residência.
Daniel de Oliveira Carvalho foi um dos moradores mais antigos de Porto Ferreira e aqui permaneceu desde meados de 1880 até o seu falecimento, em 1928. O primeiro casamento realizado no lugarejo foi o seu. A primeira casa de tijolos construída também foi a sua, mas sua biografia tratarei em ocasião oportuna.
Na primeira foto vemos em ângulo aberto as fachadas do imóvel. Na segunda imagem, a fachada do imóvel pela Rua Cel. Procópio de Carvalho. Curioso é observar nas duas fotos o lampião belga à querosene instalado bem na esquina. Este sistema de iluminação pública existiu até o fornecimento da energia elétrica, 1910, estendendo-se ao fornecimento de tal energia aos particulares, a partir de 1911.
Por Miguel Bragioni
Pesquisador da história de Porto Ferreira
Fotos: Acervo do Museu Histórico e Pedagógico “Prof. Flávio da Silva Oliveira”; Austen da Silva Oliveira.