Com o crescimento dos diversos tipos de árvores e a dificuldade de se locomover no interior do Jardim Público, por causa dos pedregulhos e da terra, diante da ausência de calçada, além da pequenez do coreto, inadequado para exibições de retreta, o professor João Teixeira percebeu a necessidade de remodelar o jardim público.
De forma amadora, desenhou uma planta, baseando-se no modesto jardim com o formato da bandeira nacional, existente no interior do Grupo Escolar “Sud Mennucci”, visando à completa modificação da Praça Cornélio Procópio, e apresentou-a ao então prefeito Syrio Ignatios.
Com o deferimento, o docente iniciou seu projeto, derrubando todas as árvores – onde mal se infiltravam os raios solares, devido à acirrada busca de luz entre as plantas, originou-se um quadrilátero de completa exposição à claridade. Em seguida, suprimiu muitos canteiros e ocupou-os com apreciadas calçadinhas portuguesas, formando alamedas.
Dorival Braga me disse, há alguns anos, que o delicado coreto foi destinado à Fazenda Rio das Pedras, e em seu lugar foi construída, como se sabe, uma pérgula. Enfim, João Teixeira mudou tudo o que existia, e demonstrou, de acordo com o semanário “O FERREIRENSE” (25.11.1945, p. 2), “ser conhecedor da matéria, preenchendo o múnus de hábil engenheiro urbanista”.
Na verdade, conforme seus escritos, trabalhou também como jardineiro e construtor, vigiando todos os movimentos acerca do jardim. Vale acrescer que sua dedicação não acarretou ônus à Prefeitura, pois não cobrou valor algum pelo serviço oferecido.
Aos poucos o intento do idealizador se cumpria: a aparição de uma praça com caminhos retilíneos; canteiros em formato de losangos, de triângulos e de trapézios; laterais em retângulos, e no centro, um hexágono. O desenho, observado de cima para baixo, representava a bandeira nacional, através de suas figuras geométricas. Diversos bancos de granito foram doados por cidadãos, comerciantes e empresas.
No segundo losango, localizavam-se os bancos sem encosto; já nas duas laterais da praça, encontravam-se os bancos de madeira e ferro, originários do primeiro jardim – ainda existem alguns no local.
Pela primeira vez, o chão de terra e de pedregulhos propiciou espaço à calçadinha portuguesa, feita pela equipe do construtor João Spadon, de Santa Rita do Passa Quatro. A arborização se distinguiu, predominantemente, pelo fícus-benjamina (benjamim).
Fazendo parte das comemorações do segundo aniversário da gestão do prefeito Syrio Ignatios, que recebeu homenagem popular noticiada pelo único jornal da época, a nova Praça Cornélio Procópio foi inaugurada às 19 horas do dia 25 de novembro de 1945, sob presença de grande massa popular, de autoridades, e de efusivos discursos, inclusive do professor Ulysses Borelli Thomaz. O acompanhamento não podia ser outro: a Corporação Musical Santa Cecília, indispensável em eventos públicos.
Desde a primeira construção, o Jardim Público, com soberania, tornou-se o espaço ideal para o “footing”, o “flirt” e a “paquera”, sendo o ambiente característico para a união de diversos casais. Ao som das músicas difundidas pelo Serviço de Alto-Falantes de Porto Ferreira, a partir de 1939, os jovens passeavam, em sentido giratório, com plena atenção aos oferecimentos musicais: “- Alguém oferece à moça loira de saia vermelha e blusa preta […]”. Em seguida, as vozes de Nelson Gonçalves, Carlos Nobre soavam nas cornetas, enquanto os corações batiam em ritmo acelerado e a troca de olhar era inevitável. Por outro lado, muitos evitavam o romantismo, dedicando sátiras, através de melodias cômicas e temáticas que causavam graça geral.
Em 1949, a oficina do lusitano Manoel Joaquim Loureiro construiu uma torre de 12 metros, que passou a sustentar 4 cornetas inglesas. A instalação ocorreu defronte do antigo e atual ponto de táxi da praça, na borda de um dos canteiros. Em consequência, os pedidos musicais se multiplicaram e as vinhetas confirmavam a difusão e audiência pelos “quatro cantos da cidade”, segundo depoimento do locutor Dalcy G. Melara, em 2010. (Encerra na próxima semana)
Por Miguel Bragioni – Pesquisador da história de Porto Ferreira
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2- Foto: Praça Cornélio Procópio em 1945, acervo do Museu Histórico e Pedagógico “Prof. Flávio da Silva Oliveira”.