Parquímetros são uma verdadeira mina de ouro. Essas máquinas que funcionam quase como caça-níqueis estão espalhadas pelo centro e obrigam os usuários do Rotativo de Porto Ferreira (ou Zona Azul) a conviver com elas diariamente.
São máquinas de fazer dinheiro. Ligando os pontos, dá para desvendar o segredo escondido a sete chaves.
Os motoristas pagam R$ 2,00 a cada hora estacionada. O valor está entre as mais altas tarifas da região. Atualmente o Rotativo também não permite o pagamento da tarifa fracionada, pós-utilização, o que é um retrocesso. Assim como não prevê a criação da Zona Verde.
A cobrança fracionada permite que o usuário que esteja com o veículo estacionado de maneira irregular, que não tenha pagado pelo bilhete, possa regularizar a utilização sem receber a multa. Na Zona Verde, existe uma permissividade de permanência na vaga por mais tempo com um preço menor.
A promessa de democratizar o espaço público não se consolida. As regras são subjetivas e não atendem aos anseios dos cidadãos que ficam incomodados com o modo como são feitas as abordagens e as cobranças. Os bolsões de estacionamento para motocicletas, com 242 vagas disponíveis, são uma trápola. Favorecem quem chega primeiro, a permanência é livre e não há rotatividade.
Por outro lado, os consumidores não são atraídos para a área comercial por existir a Zona Azul. Mas sim, os parcômetros afugentam os munícipes. Ajudam ainda a diminuir o fluxo dos clientes e dos consumidores no comércio popular e tradicional da rua Dona Balbina, rua Nelson Pereira Lopes, rua Francisco Prado, rua Dr. Carlindo Valeriani e rua João Procópio Sobrinho. Com o setor bancário não é diferente, nas imediações da praça Cornélio Procópio.
Com o tempo, a tendência é migrar para as ruas onde não há a cobrança. O que já ocorreu. Isso pode ser observado na rua Perondi Iginio. Os automóveis que antes permaneciam na rua João Salgueiro permanecem hoje mais de oito horas na via transversal sem serem incomodados. Também na rua Coronel Procópio de Carvalho o mesmo problema: os carros trasladaram para o quarteirão da agência dos Correios e para a vizinhança, que é “Área Escolar”.
Vale lembrar que a beneficiária direta dessa fábrica de fazer dinheiro, cujas multas estão sendo produzidas em escala industrial, não é da cidade. É uma empresa privada, denominada concessionária, que explora os serviços de parquímetro e tem o total respaldo da Prefeitura, que alega sempre o equilíbrio econômico-financeiro para manter o ajuste. O contrato entre a Prefeitura e essas empresas sempre ultrapassa um mandato de quatro anos, e é sempre renovável. E a falta de fiscalização e a ausência de publicidade do que é arrecadado prejudica a transparência da gestão do dinheiro público.
Se não bastasse, a maior parte de tudo o que se arrecada com os parquímetros vai para os cofres da empresa exploradora dos serviços. Apenas uma quirera fica com o fundo das entidades filantrópicas. O que chama a atenção é a destinação da receita: qual foi a obra realizada ou a melhoria obtida por essas organizações beneficentes da sociedade civil com os recursos do Rotativo Porto Ferreira?
Eis mais uma chave do segredo da Zona Azul: o usuário possui tolerância de dez minutos para a aquisição de tíquete nos pontos de venda ou parquímetros. Em curto prazo o motorista acredita que está pagando por um serviço de qualidade, mas não está prevista no contrato cláusula de seguro contra furto, roubo ou danos. Mas o parquímetro é programado de tal forma que, em longo prazo, ele cobra o valor muito maior do que o período estacionado. Os usuários não sabem que as máquinas são programadas para favorecer o dono do negócio. E o vínculo fica cada vez maior quando o motorista cria um hábito de obter, rapidamente, a emissão do tíquete.
Trata-se de uma nova modalidade de “derrama”, como foi no período do Brasil Colônia, a fim de assegurar o teto de arrecadação de tarifas e multas. Porque o “quinto” oficial estará sempre garantido. O parquímetro é, dessa forma, um mecanismo para surrupiar o bolso da classe média e da classe trabalhadora.
A Zona Azul em Porto Ferreira é ou não é uma mina de ouro?