Galinhas pesadas, gaviões, muita cultura e péssimas estradas: conheça um pedacinho do Vale do Jequitinhonha (MG)
O livro-reportagem ‘Nas Correntezas do Rio Jequitinhonha’ mostra que o Vale é tudo, menos o Vale da Miséria
Basta digitar no Google ‘Vale do Jequitinhonha’ e diversas matérias de cunho negativo, exaltando a seca e pobreza da região, vão pingar na tela. Teve uma época em que a região ganhou o apelido de ‘Vale da Miséria’. Mas será que é tudo isso mesmo?
Feito como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie, o livro-reportagem ‘Nas Correntezas do Rio Jequitinhonha’ mostra que o Vale da Miséria não existe. Com o intuito disruptivo do jornalismo sensacionalista e muita conversa boa, o livro faz com que o leitor viaje e entenda a influência do Rio Jequitinhonha na vida da população do Baixo e Médio Jequitinhonha desde antes do “descobrimento” do Brasil até os dias de hoje.
Por muito tempo, o rio foi de extrema importância como meio de transporte (canoas), cultura (músicas ou artesanatos) e economia (pesca comercial, boiadeiros, agricultura, garimpos e lavadeiras). Por isso que o personagem principal e “guia” da trajetória é o próprio Rio Jequitinhonha.
Tanto os canoeiros quanto as lavadeiras tinham o costume de cantar enquanto trabalhavam – essas músicas eram populares na época e eram passadas de pais para filhos. O ‘Coral Trovadores do Vale’, da cidade de Araçuaí (MG), conseguiu resgatar a maioria das canções da época dos canoeiros, graças a uma extensa pesquisa de um Frei holandês chamado Francisco van der Poël (mais conhecido como Frei Chico) e Maria Lira Marques (uma artesã reconhecida internacionalmente por seus desenhos em barro). Hoje as canções são símbolo de orgulho e fazem parte da cultura da cidade.
Divididos em 11 capítulos o livro conta diversas histórias características da região localizada na fronteira de Minas Gerais e Bahia. Uma delas que vale a pena conferir é justamente o primeiro capítulo ‘Galinha boa é galinha pesada’. A narrativa conta como é o dia de feira no Mercado Municipal na cidade de Araçuaí – tem de tudo: grãos em granel, bebidas alcoólicas, mel, doces, salgados, verduras, frutas e animais vivos. Principalmente galinhas. O fato mais curioso é que, para saber se a galinha está boa, os compradores pegam as galinhas pelos pés e as balançam. Fazem isso diversas vezes até encontrarem uma mais pesada.
Tem tantos outros causos: uma benzedeira de 104 anos, uma cidade esquecida, artesãos, gaviões, pedras preciosas… Se eu contar todas as histórias aqui o livro perde a graça, mas posso garantir que cada capítulo é narrado com muitos detalhes e, como contou uma amiga do Vale, o livro é do tipo “agarrolê": Depois do almoço você senta, agarra o livro e não para de ler.
Conheci a parte Baixa do Jequitinhonha (Araçuaí, Joaíma e Giru) por meio do Projeto Jequitinhonha (Pró-Jequiti), do Colégio John Kennedy, da cidade de Pirassununga (SP). O projeto, nasceu com o intuito de ajudar e fazer um intercâmbio cultural entre os alunos do colégio e a população do Vale. Foi fundado em 1999 e teve sua primeira viagem no ano de 2000. Viajei por meio do Projeto durante julho de 2014 (como coordenadora de lúdicas) e 2015 (como coordenadora da saúde do adolescente). Me apaixonei pela região e população acolhedora desde então.
Depois do Projeto, voltei ao Vale duas vezes – a primeira dirigindo sozinha por mais de 20 horas. São mais de 1.000 km que separam Porto Ferreira do Vale do Jequitinhonha. As estradas são péssimas, mas a viagem é imperdível!
“Se você deseja se sentir nas águas do Rio Jequitinhonha, você escolheu a leitura certa. Por meio de uma linguagem doce e cativante, Isadora Travagin, jornalista de formação, nos leva para uma viagem na qual, além de termos a sensação de conversarmos com os moradores do Vale, conhecemos belezas, sentimos cheiros, degustamos sabores, ouvimos sons e nos deliciamos com belas fotos. É uma obra em que a narrativa se afasta das tradicionais pobreza e miséria relatadas, abrindo o nosso olhar para a cultura tão rica da região. 11 capítulos, com títulos pra lá de criativos, nos levam ao dia da feira no Mercado Municipal, ofertam informações sobre o Vale, nos apresentam pessoas importantes para a comunidade, resgatam a cultura local, nos mostram a beleza do artesanato de barro e de madeira, abordam a religiosidade popular por meio das benzedeiras, nos apresentam o Coral Trovadores do Vale e o grupo teatral ‘É isto, é?!’, narram a trajetória indígena e, por fim, questionam a exploração de minérios e pedras preciosas e criticam as péssimas condições das estradas. Quer jornalismo, literatura, investigação e afeto, todos juntos em um só livro? É isso que ‘Nas correntezas do Rio Jequitinhonha’ trará. Bora viajar?” – prefácio do livro escrito por Valéria Martins, Pós-Doutora em Letras pela Universidade de São Paulo.
Sobre a autora
Isadora Travagin nasceu em 1997 em uma cidade do interior de São Paulo chamada Porto Ferreira. Formada em jornalismo em dezembro de 2018 pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, conheceu o Vale do Jequitinhonha em 2014 e 2015 por meio de um trabalho voluntário do Colégio John Kennedy de Pirassununga (SP) e se apaixonou pela região. "Nas Correntezas do Rio Jequitinhonha" é seu primeiro livro produzido.
Onde comprar o livro ‘Nas Correntezas do Rio Jequitinhonha’
Está a venda no site da Editora Kazuá, no Museu de Araçuaí e nas duas unidades da Papelaria Ideal em Porto Ferreira e na unidade de Pirassununga.
Papelaria Ideal II: Rua Nelson Pereira Lopes, 614 – Centro. Porto Ferreira (SP). CEP: 13660-102.
Papelaria Ideal III: Rua Francisco Prado, 649 – Centro. Porto Ferreira (SP). CEP: 13660-094.
Papelaria Ideal IV (antiga Papelaria Curimatá): Rua José Bonifácio, 383 – Pirassununga (SP). CEP: 13631-062.
Museu de Araçuaí – Um presente de Frei Chico e Lira: Rua Floriano Peixoto, 329 – Esplanada. Araçuaí (MG). CEP: 39600-000.
Site da Editora Kazuá: https://www.editorakazua.net/academico/nas-correntezas-do-rio-jequitinhonha-de-isadora-travagin