Nos últimos dias, uma série de polêmicas tem cercado a divulgação dos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem 2019, e também, o Sisu (Sistema de Seleção Unificada), que oferece aos candidatos melhores classificados, vagas em instituições públicas de ensino superior. Possíveis falhas na correção da prova, que teriam alterado as notas dos inscritos e prejudicado os estudantes, bem como, problemas na plataforma do Sisu que teriam desordenado as colocações dos participantes, são o reflexo do despreparo e do descaso do Ministério da Educação, em relação ao futuro do ensino no Brasil.
Os problemas que se frutificam hoje, foram semeados ao longo de 2019, um ano conturbado e cheio de instabilidades para o Ministério, marcado por demissões, crises e protestos. O Inep, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, responsável pela prova do Enem, por exemplo, possuiu quatro presidentes, nos primeiros seis meses do ano. A primeira foi Maria Inês Fini, remanescente do governo de Michel Temer (MDB), em seguida, foi nomeado para o cargo Marcus Vinicius Rodrigues, que em sua posse defendeu o golpe militar de 1964. Demitido em março, foi a vez do delegado da polícia federal Elmer Vicenzi, que comandou o Inep por apenas 18 dias, até ser exonerado para a posse de Alexandre Ribeiro Pereira Lopes, que se sustenta no cargo desde maio.
Além disso, o próprio Ministério da Educação trocou de comando em abril, após sucessivas polêmicas que abalaram a gestão do boliviano naturalizado brasileiro, Ricardo Vélez Rodríguez. O então ministro, chegou a afirmar que a universidade não é para todos e ainda, pediu que as escolas filmassem os alunos cantando o Hino Nacional e enviassem o vídeo ao MEC. Substituído no dia 8 de abril, pelo igualmente polêmico, Abraham Weintraub, o Ministério continuou sob períodos de instabilidade. Ao tentar um contingenciamento milionário na educação, o novo ministro sentiu, em maio, a força dos estudantes, que foram para as ruas em protestos em mais de 200 cidades do país.
Para agravar a situação, uma semana antes do ministro Weintraub tomar posse, no dia primeiro de abril, a gráfica responsável desde 2009 pela impressão das provas do Enem decretou falência, seis meses antes da realização do exame nacional. A multinacional RR Donnelley assumiu a impressão das provas do Enem na gestão de Fernando Haddad, logo após a prova ser roubada e cancelada naquele ano.
O Enem, criado em 1998, atua desde 2004 como principal mecanismo para o ingresso de estudantes nas Universidades públicas brasileiras. Neste ano, mais de cinco milhões de pessoas realizaram a prova e o Sisu recebeu cerca de 1,8 milhão de inscritos em 2020. O exame é o maior do Brasil e o segundo maior do mundo, atrás apenas de uma prova de admissão realizada na China, país mais populoso do planeta.
A dimensão continental do Enem e a complexidade de sua aplicação, torna compreensível pequenas falhas e alguns equívocos, isso é normal. Governos anteriores também apresentaram eventuais problemas na realização da prova, em edições passadas. A grande questão, neste momento, é a maneira com que se tem lidado com esses problemas, geralmente ignorados ou inseridos, propositalmente, em uma narrativa política polarizada que opõe a sociedade ao estudantes. Isso é a prova maior de que o Ministro da Educação, não possui a educação suficiente para saber se pronunciar, ouvir e enxergar as demandas e reivindicações, especialmente, dos mais envolvidos com a educação, que são os educadores, os professores e os estudantes.
por Felipe Lamellas – Graduando em Jornalismo pela Unesp
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