Porto Ferreira “história em instantes”: Dr. Erlindo Salzano e as eleições de 1950 – parte 1

O crescimento econômico e demográfico de Porto Ferreira, na década de 50, resultou da atuação de um ferreirense no cenário político: Dr. Erlindo Salzano. Após o pleito eleitoral de 1950, muitos recursos foram destinados em benefício do município, principalmente, para a construção da “Via Anhanguera”, decorrentes das influências políticas exercidas por Salzano, no cargo de Vice-Governador do Estado de São Paulo. Conseqüentemente, estabeleceu-se na população local um sentimento de orgulho generalizado, em detrimento do progresso acelerado que vinha ocorrendo em Porto Ferreira.

Portanto, cabe a este artigo compreender parte da trajetória política do ilustre Dr. Erlindo Salzano, lançando um olhar sobre os acontecimentos de 1950, bem como analisar características inerentes à política que governa os homens.

Erlindo Salzano: o homem

Em um primeiro momento, busca-se qualificar quem foi Erlindo Salzano. Duas das principais estratégias de propaganda política, em meados do século XX, período no qual a televisão ainda não havia sido difundida, era a utilização dos jornais impressos e rádios, como meios de comunicação de massa e formação da opinião pública.

Deste modo, utiliza-se como fonte histórica para a construção da imagem de Salzano, informações contidas nas reportagens do jornal “O Ferreirense”, publicadas nos dias 9 de julho e 20 de agosto, próximas à eleição de 03 de outubro de 1950, que decidiria os futuros Presidente e Vice-Presidente da República, Senadores, Governador e Vice-Governador dos Estados, Deputados Federais e Deputados Estaduais brasileiros.

Erlindo Salzano, filho de Paschoal Salzano e D. Maria Libertucci Salzano, nasceu em 30 de março de 1907. Freqüentou por 4 anos o Grupo Escolar de Porto Ferreira, dividindo os estudos com o trabalho, ora na função de servente de pedreiro, ora como braço direito do pai na fábrica de manteiga[1]. Cursou, também, a Escola Complementar de Pirassununga, até o final de 1919, com o intuito de se capacitar para os difíceis exames do “Ginásio Culto à Ciência”, de Campinas[2].

Após ser aprovado no processo de seleção, realizou os estudos ginasiais no referido instituto educacional, residindo “na casa de sua velha tia, à Rua Moreira Salles, pobre, viúva e carregada de prole, que fez dele mais um filho”[3]. Formou-se em 4 anos, dando seguimento aos planos de se tornar médico.

Mudou-se para São Paulo, a fim de cursar a Faculdade de Medicina de São Paulo. “Os estudos do “Culto à Ciência” lhe haviam dado um bom cabedal no conhecimento do inglês, francês e alemão. Aperfeiçoou-se nestas línguas e aprendeu também russo”. Traduzia bulas de medicamentos, propagandas comerciais e livros, como fonte de renda para a manutenção dos estudos[4].

Em 6 anos, concluiu os estudos de medicina. Casou-se com Dona Eucharis dos Santos Fortes Salzano, tornando-se genitor de 4 filhos: Elcie, Erany, Erlindo Justino e Evélcor.

Ingressou no corpo de Oficiais da Força Policial do Estado de São Paulo[5] e, em seguida, cursou medicina esportiva na “Escola de Educação Física do Exército”, no Forte de São João (RJ). Ao retornar à São Paulo, “reformou com o Dr. Alcaide Valls, a Escola de Educação Física da Força, onde foi efetivado como tenente-médico em 1934[6]. Em 1939, foi promovido Capitão-médico por merecimento.” Exerceu por 2 anos a função de professor da “Escola Superior de Educação Física do Estado”, tendo ensinado Cinesiologia, Ginástica Ortopédica e Fisioterápica. Concomitantemente, administrava um consultório de radiologia, em sociedade com o médico Mota Bicudo[7].

Os elementos destas reportagens supracitadas, dentre outros que não foram descritos, procuravam transmitir a imagem de Erlindo Salzano como um homem dedicado aos estudos e ao trabalho, saído da pobreza, tendo passado por inúmeras dificuldades e adversidades, até se constituir um médico bem sucedido. Assim, ele se tornava um homem do povo, buscando representar as massas, dentro de um claro contexto de construção do “populismo”[8].

Segundo o próprio Erlindo Salzano, “até 1941, em face das dificuldades sem conta que tive de enfrentar, quer como estudante pobre quer como médico iniciante e sem recursos, encontrava-me absorvido, de corpo e alma, na luta pela vida, sem tempo para olhar de lado”[9].

Dr. Erlindo Salzano e Adhemar de Barros

A aproximação entre Erlindo Salzano e Adhemar de Barros ocorreu quando, em 1941, Adhemar foi deposto do cargo de Interventor do Estado de São Paulo, pelo presidente Getúlio Vargas. Enquanto muitos criticavam Adhemar de Barros, Erlindo havia percebido que ele era diferente, pois, na Interventoria, Adhemar realizara muitas obras num curto período, estabelecendo relações entre o governo e as prefeituras, e atingindo o povo através de discursos simples. Após vários encontros, ambos se tornaram amigos íntimos[10].

Em 1945, com a reabertura política democrática, Erlindo auxiliou Adhemar a criar o Partido Republicano Progressista (PRP), em 1946, o qual se fundiu com o Partido Popular Sindicalista (PPS) e com o Partido Agrário Nacional (PAN), para a criação do Partido Social Progressista (PSP).

Já em 1947, Adhemar de Barros foi eleito Governador do Estado de São Paulo. Apoiado na velha amizade que os unia, convenceu Erlindo a assumir o cargo de Superintendente das Estâncias Hidrominerais do Estado de São Paulo. No início, eram somente 3 meses, todavia, Adhemar passou a envolver o ferreirense em inúmeras atividades políticas, carregando-o para todos os lugares[11]. “Nas perambulações incessantes de Adhemar, tornei-me seu companheiro inseparável. Tive, dessa forma, o ensejo de travar conhecimento com quase todos os políticos de projeção nacional e seus seguidores”[12], relatou Salzano em um dos seus livros publicados.

Segundo o decreto Estadual nº17719, de 28 de novembro de 1947, foi criada a “Comissão para a Construção de Casa para o Operário”. Designavam-se o Dr. Erlindo Salzano, Superintendente das Estâncias Hidrominerais, José Fajardo, Diretor Geral do Departamento Estadual do Trabalho, e Honorato Faustino de Oliveira, Chefe da Secção de Rádio-diagnóstico e Fisioterapia da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo, para integrarem a referida comissão, com o objetivo de construir casas populares[13]. Em 1948, Salzano passou a ocupar o elevado cargo de Presidente do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo[14].

De acordo com o jornal “O Ferreirense”, de 9 de julho de 1950, “num vasto plano de ampliação da zona urbana, destacou quarenta e quatro novos quarteirões e a anexou-os ao patrimônio municipal. […] Nada menos que 50 lotes de terras foram doados às famílias pobres, para levantarem também a sua casa”[15]. Indubitavelmente, Erlindo aproveitou a experiência política adquirida com o plano de moradias populares, empregando-a em Porto Ferreira.

Por intermédio de Erlindo Salzano, Adhemar de Barros fez uma série de investimentos em Porto Ferreira. Sob o pseudônimo de João D’aqui, no jornal “O Ferreirense, de 21 de maio de 1950, um escritor fez as seguintes colocações:

“Um dos traços marcantes da obra administrativa do Governador Adhemar de Barros, sempre foi a atenção dispensada aos municípios. […] A sua ajuda nós sentimos desde a Interventoria, quando ocupava o cargo de Prefeito Municipal, o saudoso Nelson Pereira Lopes, iniciando o saneamento das margens do ribeirão Santa Rosa e rio Mogi-Guaçú, […] fazendo desaparecer o estigma de “maleiteiro”, que humilhava e deprimia todo e qualquer ferreirense.

Atuou na reforma do serviço de água, com o auxílio de 1200 metros de tubos de seis polegadas, no valor aproximado de Cr$400.000,00. Trabalhou, também, para a construção do aeroporto, empréstimo de maquinário para abertura e conservação de estradas municipais, apoio para a construção do prédio da Escola Profissional e do Posto de Saúde local. Enviou Cr$30.000,00 para a construção da ponte, que liga a cidade ao aeroporto. Porém, falar nesta terra em Adhemar de Barros e não falar em Erlindo Salzano, comete-se a mais rude injustiça. […] Adhemar e Erlindo são uma verdadeira simbiose de esforços de trabalho, de lutas pelo prestígio e engrandecimento de São Paulo dentro de um Brasil maior”[16].

Mediante o decreto Estadual nº18828, de 19 de setembro de 1949, O Governo do Estado desapropriou uma área de 4760 metros quadrados pertencentes ao Dr. Erlindo Salzano, destinado à construção de prédio para funcionamento do Curso Prático de Ensino Profissional em Porto Ferreira[17].

Desta forma, o Dr. Erlindo Salzano soube construir sua trajetória profissional e política, desenvolvendo uma amizade pessoal com Adhemar de Barros, tornando-se uma das peças principais da política adhemarista, embebida de um peculiar populismo, que muitos tentaram imitar.

* Por Renan Arnoni – Historiador (UNESP – Franca); Pós-graduação em Gestão Cultural; Especialização em Análise Comportamental, Programação Neolinguística e Constelação Sistêmica Familiar; Servidor Público (Prefeitura Municipal de Porto Ferreira) e Empresário.


[1] Cf. “O FERREIRENSE”, 20/08/1950, num.832, ERLINDO SALZANO, p.1.

[2] Ibidem.

[3] Ibidem.

[4] Ibidem.

[5] Cf. “O FERREIRENSE”, 09/07/1950, num.826, Homenagem de Porto Ferreira ao DR. ERLINDO SALZANO, p,3.

[6] Cf. “O FERREIRENSE”, 20/08/1950, num.832, ERLINDO SALZANO, p.1.

[7] Ibidem.

[8] “[…] o populismo, nestas formas espontâneas, é sempre uma forma de exaltação de uma pessoa na qual esta aparece com a imagem desejada para o Estado”. Cf. WEFFORT, F. Correia. O populismo na política brasileira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. P.36.

[9] Cf. SALZANO, Erlindo. A Campanha de 50. São Paulo: EDAMERIS, p.21.

[10] Cf. SALZANO, p.22.

[11] Cf. SALZANO, p.23.

[12] Cf. SALZANO, p.25.

[13] Cf. SÃO PAULO. Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. DECRETO N. 17.719, DE 28 DE NOVEMBRO. DE 1947. Disponível em: <http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/1947/decreto%20n.17.719,%20de%2028.11.1947.htm>. Consultado em: 10/10/2012.

[14] Cf. “O FERREIRENSE”, 09/07/1950, num.826, Homenagem de Porto Ferreira ao DR. ERLINDO SALZANO, p,3.

[15] Ibidem.

[16] Cf. “O FERREIRENSE”, 21/05/1950, num.819, Porto Ferreira e o Governador Adhemar de Barros, p.1.

[17]Cf. SÃO PAULO. Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. DECRETO N. 18.828, DE 19 DE SETEMBRO DE 1949. Disponível em: <http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/1949/decreto%20n.18.828,%20de%2019.09.1949.htm>. Consultado em: 10/10/2012.

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