Os mais atentos aos fatos locais tomaram ciência, mas certamente desconhecem a verdadeira razão de a Creche Roberto Henrique João ter posto à venda o único e utilíssimo veículo daquela tradicional instituição. O edital dessa venda, levado a público em 25 de janeiro e que pode ser acessado nesse link, apenas não revelou o motivo desse ato de sua diretoria: levantar recursos para pagar funcionários, que já amargam atraso nos salários.
Por mais de meio século, a Creche Roberto Henrique João, instituição não governamental, supriu a incapacidade da Prefeitura de acolher de modo pleno a demanda social de mães que trabalhavam fora e precisavam de guarda confiável para suas crianças ao longo de suas ausências. No seu auge, aquela Creche chegou a atender, sempre gratuitamente, contingente de 130 crianças de 4 meses a 4 anos, em ambiente de reconhecida disciplina, higiene, segurança, entretenimento e ensino, trabalho possível graças às doações espontâneas de pessoas que reconheciam a relevância daquela missão, mas principalmente graças à verba que lhe destinava a Prefeitura Municipal.
Não obstante todos esses benefícios à comunidade, em fins de 2021 a Prefeitura cortou sua dotação à tradicional Creche, após inaugurar mais uma creche municipal, abrindo vagas oficiais para suprir as demandas da comunidade, como alegado. Ao perder o fôlego financeiro, a Creche Roberto Henrique João passou a atender apenas 12 crianças, contingente que chega a 30 crianças agora, graças aos esforços de seus dirigentes e funcionários. O problema é que o fôlego financeiro terminou e a Kombi posta à venda é a única moeda que resta à instituição para saldar seus compromissos trabalhistas. Começo do fim, por ver desprezados seus valores e méritos históricos e sociais.
Na origem desses fatos parece ter faltado bom senso. O fim da contribuição da Prefeitura não deu prazo suficiente para que a instituição estudasse e buscasse novas oportunidades de atuação no campo social, sua reconhecida vocação, busca tornada ainda mais difícil sem fluxo de caixa. Não apenas isso a lamentar: depois de tantos, relevantes e reconhecidos serviços prestados pela Creche Roberto Henrique João à comunidade, era de se esperar que a respeitável instituição pudesse contar com a retaguarda dos setores sociais da Prefeitura para encontrar novos caminhos e continuar útil à comunidade.
Ajudará a creche quem comprar a Kombi, mas seria desejável que os setores organizados da sociedade percebessem o que não foi vislumbrado por uma visão curta: a de que aquela instituição pode ainda prestar mais e bons serviços sociais à comunidade, principalmente se voltar seu foco para a parcela juvenil de nossa sociedade.