Três dias após entregar à Assembleia Legislativa (Alesp) o projeto de privatização da Sabesp, uma de suas principais promessas de campanha, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) liberou R$ 73,3 milhões em emendas “extras” a deputados da base e da oposição.
O valor representa 64% do total de emendas voluntárias liberadas em 2023 e é quase o dobro do que havia sido repassado aos deputados até o início de outubro.
Segundo dados do governo estadual, as liberações foram feitas em 20/10 e os maiores valores foram destinados a deputados do PSD, partido do secretário de Governo, Gilberto Kassab, responsável pela articulação política de Tarcísio, do PSDB e do PT. O projeto de lei de privatização da Sabesp foi enviado à Alesp em 17/10.
No total, o governo Tarcísio já liberou R$ 112,7 milhões aos parlamentares. Apesar de ter acelerado os repasses no último mês, deputados da base têm manifestado insatisfação com o governador às vésperas da votação da privatização da Sabesp, marcada para iniciar nesta segunda-feira (4/12).
Isso porque, segundo os deputados, os repasses estão longe de atingir os R$ 11 milhões prometidos em emendas a cada um dos governistas para 2023. Para parlamentares de oposição, a promessa foi de R$ 5 milhões.
As maiores quantias repassadas até o momento foram de R$ 4 milhões, menos da metade do prometido à base, e foram destinadas a apenas 11 parlamentares, incluindo o líder de governo, Jorge Wilson Xerife do Consumidor (Republicanos), e o presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Thiago Auricchio (PL).
Os repasses contemplaram 56 dos 94 deputados, quantidade que corresponde a menos do que três quintos da Alesp e, para comparação, se fosse utilizada em uma votação, ficaria a apenas um voto de aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC).
As emendas extras, ou voluntárias, são repasses feitos pelo governo aos deputados seguindo critérios políticos. Ao contrário das emendas impositivas, que possuem um valor fixado em cerca de R$ 10 milhões para cada parlamentar, as emendas extras são de escolha do governador, que determina quanto será enviado e para quais deputados.
Bolsonaristas criticam falta de emendas A liberação, pelo governo, de mais repasses ao PT do que a deputados bolsonaristas enfureceu os parlamentares alinhados com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e que fizeram campanha por Tarcísio em 2022.
Eles entendem que merecem tratamento especial do governador – uma vez que são cobrados a serem a linha de frente da defesa do governo na Alesp –, mas sequer têm atenção similar à recebida pela oposição.
Nenhum dos cinco parlamentares que anunciaram, semana passada, a formação de uma bancada paralela para discutir projetos de Tarcísio, recebeu emendas até o início de novembro. Em contrapartida, deputados da federação entre PT e PCdoB já receberam R$ 10,9 milhões (veja no quadro abaixo).
No X (ex-Twitter), o deputado Gil Diniz (PL) criticou a deputada petista Thainara Faria pelo que chamou de “ingratidão”: em uma publicação na qual ela anunciou a liberação de R$ 500 mil pelo governo, ela não fez nenhum agradecimento ao adversário Tarcísio.
Segundo interlocutores, a mensagem continha uma crítica indireta ao próprio governador, que não tem atendido pedidos do deputado. “Ingratidão é um dos piores defeitos que um ser humano pode ter!”
Tweet do deputado estadual Gil Diniz (PL) Às vésperas da votação do projeto de lei para privatização da Sabesp, o raciocínio dessa ala de aliados do governador é que Tarcísio e sua equipe já não têm os votos dos partidos de esquerda e, por isso, não deveriam fazer nenhum aceno ao grupo.
No Palácio dos Bandeirantes, porém, o entorno do governador minimiza tanto as críticas do grupo sobre o modo de lidar com a oposição quanto as ações de “revoltas públicas” dos bolsonaristas.
A avaliação é que o governo conseguiu aprovar todos os projetos que teve necessidade e que, embora “muito barulhenta”, a ala governista insatisfeita com o governador é pequena.
*Fonte: primeirojornal.com.br