Na edição passada, foi demonstrado que o boi apareceu pela primeira vez no carnaval, com a mesmas características de Porto Ferreira, pela em Artur Nogueira, no ano de 1928. Transformou-se, depois, no Bloco da Vaca, inspirada na “Festa de San Fermin” (Pamplona na Espanha), onde ocorre o “Encierro”, corrida de touros pelas ruas da cidade, na qual pessoas se expõe ao perigo de enfrentarem as feras e de levarem chifradas.
Entretanto, este elemento cultural carnavalesco teve outras paradas antes de Porto Ferreira.
LIMEIRA
Limeira possuiu o Bloco do Boi no seu Carnaval, entre 1933 e 2008. “João José dos Santos, o “João Tachinha”, 60 anos, produziu os últimos desfiles do bloco. […] “Foi praticamente o último carnaval de verdade que teve em Limeira. Batuque, agora, só nos jogos do Corinthians”, diz Santos”. (Fonte:daizadecarvalho.wordpress.com, 2010)
Obviamente, são necessárias mais informações e fontes históricas para fundamentar e explorar os detalhes do Bloco do Boi em Limeira. Porém, fato interessante a ser ressaltado é o ano de início do Bloco do Boi na cidade, 1933, que é vizinha (cerca de 30km) de Artur Nogueira; também chama a atenção a fotografia encontrada no Museu de Limeira e a citação de João Tachinha sobre o batuque, característica presente nos Blocos do Boi de Artur Nogueira e Porto Ferreira.
RIO CLARO
“Em alusão à cidade de Rio Claro, como ponto de origem do “Boi”, deve ser considerada a lembrança do senhor Getúlio Greve, ex-ferroviário e morador daquele município, o qual se recorda, perfeitamente, de uma brincadeira no carnaval, com as corridas do “Boi”, então denominado “Boizinho”. Em conversa, Getúlio atestou que em sua infância (década de 1940), os “boizinhos”, feitos pela garotada, eram comuns. Portanto, há possível correlação entre as duas cidades, considerando a importância de Rio Claro no aspecto férreo. Condizente aos dois “linheiros”, divulgados na matéria do Extra, suas identidades permaneceram no anonimato até a divulgação de uma importante entrevista com José Américo, post-mortem, pela qual foi revelado o nome de três cidadãos: José Plínio, José Simões e José Silvestrino”. (BRAGIONI, 2020)
Baseado nas informações de Miguel Bragioni, é possível atestar a manifestação do boi em Rio Claro, de forma bastante tímida. Contudo a relevância do munícipio se mantém na argumentação histórica, considerando-se que, provavelmente, funcionários da Cia. Paulista de Estradas de Ferro, responsáveis por trazer a cultura do boi a Porto Ferreira, eram provenientes de Rio Claro.
Em 1884, com a inauguração da linha de bitola métrica da Cia. Rio-Clarense, a estação passou a ser ponto de baldeação de passageiros e cargas que vinham tanto de São Paulo como de São Carlos. Em 1939, a cidade tinha 1.300 ferroviários, baseados na estação, oficinas e outras unidades (O Estado de S. Paulo, 3/10/1939. Disponível em estacoesferroviarias.com.br)
Diante das informações citadas acima e, considerando o conteúdo já exposto sobre Limeira, conclui-se que Limeira, onde ocorria a manifestação do boi, situa-se 28km de distância de Rio Claro. Complementarmente, a estação de Rio Claro era um ponto de baldeação, com oficinas e outras unidades, composta de mais de 1000 funcionários na década de 30, característica que favorecia a circulação de ideias vindas de outras localidades.
A pergunta que fica é esta: devemos considerar a origem Pamplona, Artur Nogueira, Limeira ou Rio Claro?
Obviamente, quando se trata de um processo histórico, carregado de heranças culturais, ações do homem no tempo, é impossível determinar uma origem. Entretanto, compreender essas mesmas heranças culturais se torna necessário para caracterizar a nossa identidade e entender melhor o presente.
(Continua na próxima edição…)
* Renan Arnoni: Bacharel e Licenciado em História- UNESP, Pós-Graduado em "Gestão Cultural – cultura, desenvolvimento e mercado” e Analista Comportamental. Coautor do livro “Aspectos Históricos de Porto Ferreira” – volume II (2013); autor do livro História Social e Econômica de Porto Ferreira (2020). Pesquisador Digital Influencer e Produtor Cultural.
