De passagem por Berlim para inaugurar uma exposição, a fotógrafa americana Nan Goldin, de 71 anos, acusou Israel de cometer "genocídio em Gaza e no Líbano" e afirmou que criticar o Estado de Israel pelo genocídio não é antissemitismo.
"Decidi usar esta exposição como plataforma para amplificar minha posição de revolta moral com o genocídio em Gaza e no Líbano", disse Goldin na última sexta-feira (22/11), durante a abertura de "This Will Not End Well" (isso não vai acabar bem, em tradução livre) na Neue Nationalgalerie.
Goldin, que tem origem judaica e é uma das mais renomadas artistas na fotografia contemporânea, lembrou o processo aberto contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ), que apura crime de genocídio contra palestinos. Preocupações nesse sentido também foram externadas pelas Nações Unidas e pelo papa Francisco, que ela citou em sua fala.
"E, ainda assim, não deveríamos chamar isso [a ofensiva israelense] de genocídio. Você tem medo de ouvir isso, Alemanha?", indagou. O questionamento, ao mesmo tempo em que alude aos 6 milhões de judeus que o nazismo assassinou durante a Segunda Guerra Mundial, é também uma crítica à forma como as autoridades do país têm reagido a protestos pró-palestinos.
A Alemanha contemporânea assumiu um compromisso de Estado com o direito de defesa de Israel e a proteção da vida judaica. Mas críticos como Goldin afirmam que a reação do país às reverberações do conflito em seu próprio território tem ajudado a alimentar o ódio antissemita.
"Antissionismo não tem nada a ver com antissemitismo", insistiu Goldin. O termo, segundo ela, foi esvaziado e estaria sendo instrumentalizado pelo governo alemão contra a comunidade palestina e aqueles que se solidarizam com ela. "Ao declarar toda crítica a Israel como antissemita, isso torna mais difícil definir e fazer cessar o ódio violento contra judeus. Estamos menos seguros."
"Meus avós fugiram dos pogroms na Rússia. Fui criada sabendo do Holocausto nazista. O que vejo em Gaza me lembra os pogroms dos quais meus avós escaparam", afirmou. "O que você aprendeu, Alemanha? […] 'Nunca mais' significa 'nunca mais' para todos", acrescentou, referindo-se à guerra em Gaza como o primeiro "genocídio com transmissão ao vivo".
Citando um clima de repressão na Alemanha contra o setor cultural desde a eclosão do conflito, Goldin disse que o discurso dela era um teste para saber se um artista do calibre dela poderia expressar suas visões políticas sem ser cancelada. E que, se esse fosse o caso, ela esperava "abrir o caminho" para que outros artistas possam fazer o mesmo.
*Fonte: www.dw.com/