Abusos em nome da Fé: o silêncio cúmplice e a voz das vítimas na “Era Digital”

A recente declaração do pastor Franklin Ferreira, reitor do renomado seminário Martin Bucer, defendendo que cristãos não devem expor publicamente pecados e conflitos internos da igreja, reacendeu um debate crucial no meio evangélico brasileiro.

Em um contexto marcado por crescentes denúncias de abusos espirituais, assédio sexual e moral perpetrados por líderes religiosos – como o caso recente de um fiel coagido a doar R$ 30 mil –, a fala de Ferreira levanta uma questão incômoda: o silêncio institucional protege quem?

Em artigo publicado na Gazeta do Povo, Ferreira argumentou que a exposição de falhas e conflitos na internet por parte de cristãos desvaloriza a comunhão visível da igreja, privilegiando uma "justiça subjetiva e virtual" e promovendo "escândalo e divisão".

Para embasar seu posicionamento, o pastor invocou princípios bíblicos de confrontação e restauração eclesiástica presentes em Mateus 18.15-17, ecoando a conhecida defesa do deputado Marco Feliciano de que o "círculo de oração" seria a "delegacia de crente".

No entanto, essa analogia e a aplicação direta da passagem bíblica ignoram uma distinção fundamental: o texto de Mateus se refere a irmãos em pé de igualdade, uma condição que inexiste em situações de abuso espiritual.

Este, por sua vez, configura-se como violência verbal, psicológica, financeira e sexual, entre outras, exercida em nome de Deus por figuras de autoridade religiosa. Não se trata de um conflito entre pares, mas sim do uso do poder para exploração e dano.

Nesses casos, a Escritura Sagrada oferece outras perspectivas. Em vez de Mateus 18:

" as palavras de Jesus sobre os "lobos devoradores" disfarçados de líderes piedosos (Mateus 7.15-23) se mostram mais pertinentes. Da mesma forma, o apóstolo Paulo instrui que líderes que pecarem sejam repreendidos publicamente "para que os demais também temam" (1 Timóteo 5.20), uma medida preventiva contra a institucionalização do abuso.

A menção descontextualizada de Mateus 18, lamentavelmente, pode servir de escudo para os próprios abusadores.

Líderes que se valem de sua posição para cometer atos ilícitos frequentemente recorrem a esse texto para silenciar vítimas, ocultar suas práticas e escapar da responsabilização, aproveitando-se da tendência da comunidade religiosa em acolher sua versão dos fatos. Essa tática é tão comum que especialistas em abuso religioso, como Scot McKnight e Laura Barringer, a incluem em suas análises.

A realidade demonstra que, diante de alegações e até mesmo evidências de abuso, é raro que a igreja se posicione em favor da vítima. Nos Estados Unidos, casos de pastores de megaigrejas confessando abuso sexual e sendo ovacionados por suas congregações ao pedirem perdão ilustram essa dinâmica perversa.

No Brasil, a recente confissão pública de abuso espiritual do ex-pastor Paulo Júnior gerou reações de indignação por parte de fiéis que lamentavam sua destituição, minimizando a gravidade do ocorrido.

Líderes abusadores se beneficiam dessa devoção cega para abafar internamente seus atos. Ensinam que a vítima deve confrontar sozinha seu agressor, um procedimento desaconselhado por psicólogos especialistas em trauma, que ressaltam a vulnerabilidade e o estado emocional fragilizado dessas pessoas. Ao buscar ajuda externa, muitas vezes as vítimas são desacreditadas, ameaçadas e até mesmo disciplinadas pela própria igreja.

Diante da omissão ou da hostilidade de líderes, familiares e amigos que permanecem na comunidade religiosa, a internet se tornou um espaço crucial para que as vítimas expressem sua verdade e encontrem apoio. A comunicação online permite que identifiquem padrões de abuso e que muitos perpetradores sejam expostos.

Onde o sistema de justiça " das igrejas" falham ou se mostram inoperante, as redes sociais emergem como uma arena pública onde as narrativas – tanto dos líderes quanto dos membros – podem ser avaliadas por seus próprios méritos.

Em uma era de pastores midiáticos, a internet também se tornou um palco para que pessoas comuns confrontem culturas de abuso. Não calemos essas vozes. É fundamental que as comunidades religiosas repensem suas abordagens sobre conflitos e denúncias, priorizando a proteção das vítimas e a responsabilização de líderes que traem a confiança de seus fiéis e maculam a fé que professam.

*Fonte: www1.folha.uol.com.br – Texto produzido com auxílio de IA

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