A precoce e chocante morte de Sarah Raíssa Pereira de Castro, de apenas 8 anos, no último domingo, no Distrito Federal, expõe de forma brutal a irresponsabilidade do Congresso Nacional e de setores da sociedade que, sob o manto da "liberdade de expressão", bloquearam o avanço de uma legislação essencial para proteger crianças e adolescentes no ambiente virtual: a Lei das Fake News.
A tragédia, causada pela inalação de desodorante incentivada por um desafio no TikTok, não é um caso isolado e serve como um doloroso lembrete de como prioridades equivocadas e o fanatismo político impedem a proteção da vida, tanto no mundo real quanto no digital.
Assim como Sarah, Brenda Sophia Melo de Santana, de 11 anos, perdeu a vida há um mês em Pernambuco, vítima do mesmo desafio cruel propagado sem controle nas redes. E a lista de tendências macabras que circulam online é extensa e aterrorizante: o "desafio do apagão", o uso perigoso de medicamentos como o Benadryl, o violento "quebra-crânio" e até mesmo a simulação de uso de drogas por adolescentes. Conteúdos que viralizam, impulsionados por algoritmos que priorizam o engajamento, muitas vezes extremista e criminoso, em detrimento da segurança dos usuários.
Enquanto essas tragédias se acumulam, a regulamentação das redes sociais permanece paralisada. Políticos, especialmente das bancadas do PL e do Novo, insistem que a responsabilidade pela moderação de conteúdo deve recair unicamente sobre as plataformas, brandindo o argumento falacioso da "censura prévia" contra qualquer tentativa de intervenção legislativa.
É uma ironia amarga constatar que os mesmos setores conservadores que se autoproclamam defensores da família se alinham, neste debate crucial, com os interesses financeiros das big techs, que lucram exponencialmente com a disseminação de conteúdos virais, inclusive aqueles que colocam em risco a vida de crianças e adolescentes.
O "enterro" do PL das Fake News, patrocinado por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, que buscavam liberdade irrestrita para ataques ao sistema eleitoral e ao Judiciário, escancarou a falta de compromisso com a segurança da população online. A inabilidade do atual governo em articular e priorizar o tema também contribui para o impasse. Novas propostas sobre a regulação seguem travadas nos ministérios, enquanto a estratégia de vincular a urgência da lei a questionamentos eleitorais e ataques a outros poderes se mostra ineficaz para sensibilizar a opinião pública.
*Fonte: www.estadao.com.br