O governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) decidiu não renovar o convênio que garantia recursos anuais de aproximadamente R$ 1 milhão para a Casa Hope, instituição filantrópica que oferece hospedagem, alimentação, assistência psicológica e outros serviços essenciais a crianças e adolescentes com câncer em São Paulo. A medida, que interrompe um apoio mantido desde 2007, pode reduzir pela metade o número de famílias atendidas e coloca em risco um serviço que beneficia pacientes encaminhados por hospitais públicos e privados vinculados ao SUS.
A justificativa do governo estadual, enviada por ofício à instituição, é de que a Casa Hope "não presta serviços diretamente ligados à saúde", conforme exigido pelas normas de aplicação de recursos públicos. No entanto, a organização oferece monitoramento 24 horas, suporte psicossocial e cursos para pacientes em tratamento oncológico — muitos deles vindos de outras cidades e sem condições de arcar com estadia na capital.
Abandono de uma política consolidada
A Casa Hope existe há 31 anos e atende, em média, 300 famílias por ano, a maioria de fora da região metropolitana. Sem o repasse do Estado, a instituição terá que cortar serviços essenciais, deixando crianças e adolescentes em tratamento sem moradia, alimentação adequada e suporte emocional durante um dos momentos mais difíceis de suas vidas.
O médico Fernando Rizzolo, CEO da Casa Hope, lamenta a falta de diálogo do governo Tarcísio: "Alguns governadores já transferiram essa assistência para pastas como Assistência Social ou Direitos Humanos, mas nenhuma orientação nesse sentido nos foi dada. Convidamos o governador diversas vezes para nos conhecer, mas nunca tivemos resposta."
Prioridades questionáveis
A decisão de cortar o repasse à Casa Hope contrasta com outras ações do governo estadual, como a liberação de verba pública para eventos religiosos e o investimento em grandes obras, enquanto serviços básicos de saúde e assistência são negligenciados. Para especialistas em políticas públicas, a medida reflete um descaso com a saúde de populações vulneráveis.
"O Estado não pode se eximir de apoiar instituições que complementam o SUS, especialmente em casos de doenças graves como o câncer infantil", afirma a assistente social Maria Lúcia Oliveira, que atua na área há 20 anos.
Repercussão e mobilização
Familiares de pacientes e voluntários já começaram campanhas nas redes sociais com a hashtag #SalveACasaHope, pressionando o governo a rever a decisão. Enquanto isso, a instituição busca doações da iniciativa privada para evitar o fechamento de leitos.
A Secretaria de Saúde de SP não se pronunciou sobre a possibilidade de rever o corte, nem apresentou alternativas para garantir a continuidade do atendimento às famílias. A omissão de Tarcísio de Freitas diante do caso levanta dúvidas sobre seu compromisso real com as políticas de saúde pública no estado mais rico do país. Enquanto o governo ignora pedidos de diálogo, crianças com câncer e suas famílias pagam o preço.
*Fonte: abrale.org.br