Diz o velho ditado brasileiro que "guerra avisada não mata soldado", mas em 2013, quando milhões tomaram as ruas do país em protestos que começaram com 20 centavos, autoridades e empresas foram pegas completamente desprevenidas.
O que poucos perceberam: havia um aviso claro, escondido à vista de todos. Dois meses antes das manifestações eclodirem, as buscas no Google por "engajamento" dispararam dramaticamente, sem um aumento correspondente em termos relacionados à coesão social. Este sinal digital passou despercebido enquanto o país marchava, inconsciente, rumo à maior onda de manifestações em uma geração.
Agora, uma década depois, os mesmos padrões de busca digital que precederam aquela tempestade social estão se formando novamente — só que desta vez, os sinais parecem mais intensos, enquanto as estruturas de relacionamento social que poderiam amortecer os choques mostram sinais de erosão preocupante.
A sabedoria popular brasileira sempre valorizou a prevenção, mas como antecipar terremotos sociais em tempos digitais? Métodos tradicionais para medir o bem-estar coletivo — como pesquisas extensas e esporádicas — oferecem apenas retratos do passado, é como dirigir olhando apenas pelo retrovisor.
Nossa pesquisa, porém, aplica o modelo PERMA da psicologia positiva (Emoção Positiva, Engajamento, Relacionamentos, Significado e Realização) aos padrões de busca do Google, transformando comportamentos digitais coletivos em um sistema de alerta precoce para instabilidade social.
Para empresários e gestores públicos em toda a América Latina, região onde tensões econômicas e políticas frequentemente se manifestam em protestos disruptivos, este novo "sistema de alerta" poderia transformar a gestão de crises — de reativa para preventiva, dando sentido prático ao ditado sobre guerras avisadas.
Os riscos para a estabilidade brasileira são claros e presentes. A minha análise das tendências atuais revela um padrão preocupante: indicadores de relacionamento — reflexo direto da coesão comunitária e do tecido social — vêm declinando constantemente desde 2015, também declinou o interesse por gratidão, enquanto o engajamento apresenta picos cada vez mais voláteis, reminiscentes do período pré-2013.
Sem os laços sociais que historicamente funcionaram como absorvedores de choque durante períodos de turbulência, futuros movimentos de protesto podem se mostrar mais fragmentados e difíceis de resolver.
Para um país ainda se recuperando dos impactos da pandemia e navegando por águas políticas agitadas, estes sinais digitais oferecem um recurso valioso: uma janela de seis semanas para abordar insatisfações emergentes antes que se transformem em crises — desde que estejamos dispostos a ouvir o que nosso comportamento coletivo de busca está silenciosamente sinalizando.
Afinal, como nos ensina a sabedoria popular, quando anunciada, a guerra permite preparação, diálogo e, possivelmente, prevenção.
*Por Alfredo Behrens – Escritor e acadêmico brasileiro, tendo lecionado em Harvard, Princeton e na London Business School
** Fonte: diariodocomercio.news