O período de 1979 a 1985 marcou os estertores do regime militar no Brasil, uma era de abertura política hesitante em meio a uma tempestade econômica sem precedentes. O governo do General João Baptista de Oliveira Figueiredo, o último presidente militar, herdou um país onde os sinais do outrora celebrado "milagre econômico" haviam se esvaído, dando lugar a uma crise que corroeu a estabilidade e a credibilidade do regime.
A década de 1980 escancarou as fragilidades estruturais da economia brasileira. Os choques do petróleo de 1973 e, principalmente, o de 1979, impuseram um fardo pesado sobre as importações, inflamando a já delicada balança de pagamentos e catapultando a dívida externa a patamares alarmantes. O Brasil, que havia se endividado significativamente na década anterior, viu-se em uma armadilha financeira com o aumento das taxas de juros internacionais.
O dragão da inflação, que já assombrava a economia, ganhou asas nesse período. Em 1980, o índice ultrapassou a marca dos 100% ao ano, e a escalada prosseguiu de forma implacável, chegando a quase inacreditáveis 200% nos anos finais do regime. A combinação perversa de estagnação econômica e inflação galopante, a chamada estagflação, paralisou o crescimento e erodiu o poder de compra da população.
A crise da dívida latino-americana, deflagrada pela moratória mexicana em 1982, atingiu o Brasil em cheio. A incapacidade de honrar os compromissos financeiros externos estrangulou a economia, limitando o acesso a crédito e aprofundando a recessão. Empresas de diversos setores não resistiram à combinação letal de juros altos, inflação descontrolada e falta de investimento, declarando falência e engrossando as filas do desemprego nas áreas urbanas.
Os acordos firmados com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que impunham metas de ajuste fiscal e cortes de gastos públicos, agravaram ainda mais a recessão e geraram impopularidade crescente.
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro encolheu em anos cruciais como 1981 e 1983, enquanto a taxa de desemprego nas cidades registrava um aumento constante, expondo a face mais cruel da crise econômica. A população, já clamando por democracia, via seu poder aquisitivo se esvair e o futuro se tornar incerto.
O cenário econômico sombrio contribuiu decisivamente para o desgaste final do regime militar. A crescente insatisfação popular, o fortalecimento da oposição e a mobilização da sociedade civil criaram um ambiente insustentável para a manutenção do autoritarismo dos governos militares.
A transição para a Nova República, marcada pelas eleições indiretas de 1985 e a ascensão de José Sarney após a trágica morte de Tancredo Neves, representou o fim oficial do ciclo militar. No entanto, o país emergia da ditadura mergulhado em uma profunda crise econômica, um legado amargo que demandaria esforços hercúleos e novas abordagens para ser superado. A inflação de quase 200% ao ano, a dívida externa colossal e as cicatrizes do desemprego seriam os desafios urgentes da nascente democracia brasileira.
*Fonte: Livro Brasil de Castelo a Tancredo – de Thomas Skidmore/editora Paz e Terra