O que parecia ser um avanço no combate ao problema crônico da Cracolândia em São Paulo — o esvaziamento da Rua dos Protestantes — trouxe um novo desafio para comerciantes e moradores da região central: a dispersão dos dependentes químicos para outras áreas próximas, como a Rua Helvétia, Praça Marechal Deodoro e Terminal Princesa Isabel. Ao todo, segundo levantamento da Prefeitura, 32 ruas registram atualmente a presença de usuários de drogas.
A Prefeitura e o governo do Estado afirmam atuar de forma integrada, combinando ações de segurança pública, saúde e assistência social. Segundo a Secretaria da Segurança Pública, a política atual inclui internações em hospitais e casas terapêuticas, além da repressão ao tráfico. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) destaca que, após ações na Favela do Moinho — considerada um ponto de distribuição de drogas —, a concentração na Protestantes diminuiu drasticamente.
Contudo, especialistas e entidades como a ONG Craco Resiste questionam a eficácia da abordagem, especialmente pela forma como se dá a dispersão. Para eles, o problema apenas mudou de lugar, sem solução estrutural. A cena clássica do “fluxo”, com centenas de usuários em uma mesma rua, pode ter desaparecido, mas deu lugar a pequenos agrupamentos que circulam por diferentes pontos, afetando de forma pulverizada os negócios da região.
O impacto no comércio é evidente. A aposentada Helena Santos investiu R$ 120 mil em um ponto na esquina das ruas Helvétia e Conselheiro Nébias, mas, diante da escalada da violência e dos assaltos, decidiu abrir mão do negócio. "Tive um prejuízo grande e ainda fiquei deprimida", relata.
Na Avenida Rio Branco, onde a presença de usuários diminuiu, o gerente de uma lanchonete reconhece a melhora, mas destaca que “o problema apenas foi transferido”. Já na Praça Marechal Deodoro, comerciantes evitam dar entrevistas por medo de represálias. “A gente tem medo de uma invasão”, admite o gerente de um restaurante local.
Para comerciantes, a solução definitiva exige mais do que operações pontuais. “Não se trata apenas de segurança. Falta política de saúde pública consistente, acolhimento verdadeiro”, aponta Iezio Silva, presidente da Associação Pró-Campos Elíseos.
Enquanto isso, a cidade segue em estado de vigilância. Em vez de uma Cracolândia centralizada, surgem várias mini Cracolândias, tornando o problema ainda mais difícil de controlar — e cada vez mais próximo das vitrines fechadas do centro paulistano.
*Fontes: www.estadao.com.br