Na última quinta-feira (12), a CPI das Bets viveu seu momento mais controverso: o relatório final, que recomendava o indiciamento de 16 pessoas, incluindo o empresário Fernando Oliveira Lima — conhecido como Fernandin OIG — foi rejeitado. A decisão deixou perplexos os senadores responsáveis pela investigação, diante de provas robustas envolvendo movimentações financeiras milionárias e suspeitas de crimes como lavagem de dinheiro e associação criminosa.
No centro da controvérsia está a relação pessoal e política entre Fernandin e o senador do Centrão Ciro Nogueira (PP-PI), integrante da CPI.
A proximidade entre os dois é pública: reportagens revelaram que o senador transportou Fernandin em seu jato de luxo, avaliado em 70 milhões de dólares, para o prestigiado GP de Mônaco. Mais do que amizade, a aliança entre os dois passou a ser interpretada como um escudo político que protegeu o empresário no momento mais crítico da investigação.
Durante o depoimento de Fernandin à CPI, ainda como testemunha em novembro de 2024, foi Ciro quem o defendeu com veemência diante das inconsistências apontadas por senadores como Soraya Thronicke (Podemos-MS) e Izalci Lucas (PL-DF). Posteriormente, após a detecção de movimentações financeiras incompatíveis com seu patrimônio, o empresário passou à condição de investigado.
Segundo o relatório da CPI, Fernandin movimentou somas impressionantes: R$ 110 milhões passaram por sua conta na XP Investimentos entre 1º e 19 de julho de 2024. Seu patrimônio saltou de R$ 36 milhões para R$ 143 milhões em apenas um ano. E entre julho e novembro de 2024, sua empresa One Internet Group realizou transações que ultrapassaram R$ 800 milhões, envolvendo plataformas de pagamento como BPAY e PAY2FREE, além de investimentos próprios de R$ 71,9 milhões.
Apesar dos indícios de irregularidades, o relatório da CPI foi rejeitado em votação. Parlamentares críticos atribuem a derrubada do texto à atuação direta de Ciro Nogueira, que teria articulado para proteger o amigo empresário e blindar os interesses do setor de apostas, especialmente os envolvidos com o cassino online “Fortune Tiger”, popularmente conhecido como "tigrinho".
Além de Fernandin, o relatório também recomendava o indiciamento de influenciadores digitais como Virgínia Fonseca e Deolane Bezerra, acusadas de fazer propaganda de plataformas investigadas.
Outro personagem que levanta suspeitas é Erlan Ribeiro Lima Oliveira, primo e sócio de Fernandin. Ele viu seu patrimônio saltar de R$ 162 para R$ 1,8 milhão em um ano, mesmo sendo beneficiário do Auxílio Emergencial até 2022. Erlan movimentou valores superiores a R$ 200 mil em julho de 2024, com transferências atípicas e fracionadas — prática clássica de ocultação de origem de recursos.
Embora o relatório da CPI tenha sido rejeitado, o documento ainda pode servir como base para novas investigações do Ministério Público e da Polícia Federal. Mas o episódio deixou exposto um problema antigo e recorrente no sistema político brasileiro: a promiscuidade entre poder político e poder econômico.
Ao transformar a CPI das Bets em palco de blindagem para aliados, o senador Ciro Nogueira compromete não apenas a credibilidade da comissão, mas também o combate à criminalidade financeira em um setor que movimenta bilhões — muitas vezes à sombra da legalidade.
*Fonte: piaui.folha.uol.com.br Texto e imagem produzidos com auxílio de IA