A Prefeitura de Porto Ferreira divulgou recentemente um comunicado cobrando mais responsabilidade da população sobre o descarte irregular de lixo em terrenos baldios e espaços públicos da cidade. A mensagem apela para a consciência individual, dizendo que “cada um pode fazer a diferença” e que a solução para o problema passa por uma mudança de hábitos. O tom é de cobrança e alerta para os riscos à saúde pública, especialmente com a proliferação de doenças como a dengue.
No entanto, a narrativa institucional esbarra em uma contradição visível a qualquer morador que circule pelos bairros da cidade. Prédios públicos, terrenos pertencentes à própria prefeitura e áreas que deveriam estar sob manutenção do poder público estão em situação de abandono. Em muitos desses locais, o cenário é de lixo espalhado, entulho, mato alto e até animais mortos — exatamente os mesmos problemas que a gestão tenta imputar unicamente à população.
É o caso de diversas ruas com mato alto – buracos por todo lado, canteiros centrais esquecidos, áreas institucionais sem cercamento e terrenos públicos onde o mato alto e os resíduos acumulados se tornaram parte da paisagem.
Em alguns pontos, há indícios claros de que a própria ausência do poder público tem contribuído para que moradores descartem lixo nesses locais, por não enxergarem nenhum tipo de fiscalização ou manutenção por parte da prefeitura.
A hipocrisia da gestão municipal fica ainda mais evidente quando se constata que o discurso de educação ambiental não vem acompanhado de exemplo. Como cobrar do cidadão ações que a própria administração municipal não pratica?
Ao invés de apenas transferir a culpa para a população, a Prefeitura deveria assumir sua responsabilidade na manutenção da cidade e liderar pelo exemplo.
Cobrar da população é legítimo, mas omitir a falha do próprio poder público em cuidar do que é de sua competência soa mais como uma tentativa de terceirizar a culpa do que como uma campanha educativa eficaz.
Enquanto isso, Porto Ferreira segue sendo tomada pelo descaso — não só da parte de quem joga lixo nas ruas, mas também de quem deveria cuidar delas.
*Fontes: www.portoferreira.sp.gov.br – 1 ; www.portoferreira.sp.gov.br -2