O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, afirmou nesta quarta-feira (18), em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN, que "não há prova de que o Irã empreende um esforço sistemático para obter armas nucleares".
A declaração, amplamente divulgada ao longo do dia ontem, quinta-feira (19/06) em diferentes veículos internacionais, contradiz frontalmente as acusações feitas por autoridades israelenses e americanas de que Teerã estaria às portas de se tornar uma potência nuclear armada.
A fala de Grossi veio cinco dias após o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, justificar o ataque ao Irã com base em um relatório da própria AIEA que, segundo ele, indicava um aumento de 50% no enriquecimento de urânio nos últimos três meses. O mesmo relatório, no entanto, não estabelecia relação direta com a construção de armamento nuclear.
O episódio reacende memórias da tragédia diplomática e militar que marcou a invasão do Iraque em 2003. Na época, os Estados Unidos e o Reino Unido alegaram — com base em relatórios forjados ou interpretados com viés — que Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa. A guerra custou US$ 3 trilhões, provocou mais de 300 mil mortes, destruiu um país e alimentou o crescimento de grupos extremistas, como a Al-Qaeda.
Vinte anos depois, a sombra daquela mentira ainda ronda decisões políticas. A tentativa de se evitar um novo desastre semelhante permeia agora o debate internacional, especialmente no Conselho de Segurança da ONU, que volta a se reunir nesta sexta-feira (20), a pedido do Irã.
Para muitos analistas, a movimentação atual lembra perigosamente a campanha política e militar que levou à destruição do Iraque. A pressão de Netanyahu, calcada nos atentados do Hamas de 7 de outubro de 2023, segue a lógica do "estado permanente de ameaça", usada por Bush após o 11 de Setembro para justificar ações unilaterais.
Diante das declarações de Grossi, ganha força o alerta de que se repete o roteiro de uma guerra anunciada com base em dados questionáveis. Em 2003, foi o então secretário de Estado americano, Colin Powell, quem apresentou ao Conselho de Segurança da ONU um frasco com suposto antraz — uma das mais marcantes cenas da era da desinformação diplomática.
Hoje, o mundo assiste, uma vez mais, ao uso seletivo de relatórios técnicos para alimentar decisões bélicas. E mais uma vez, a verdade parece ser a primeira vítima da guerra.
*Fonte: www.reuters.com – valor.globo.com – dw.com – Texto e charge produzidos com auxílio de IA