A desestabilização de Estados nacionais como Iraque e Síria, decorrente de guerras e conflitos internos prolongados, criou uma conexão estratégica indireta que tem sido explorada por Israel. A ausência de defesas aéreas eficazes e a fragmentação do controle do espaço aéreo nesses países concederam a Israel uma liberdade de ação sem precedentes, facilitando operações militares contra alvos iranianos e pró-Irã e, teoricamente, abrindo caminho para um eventual ataque direto ao Irã.
Colapso Iraquiano – A invasão dos EUA em 2003, que derrubou Saddam Hussein e desmantelou as forças armadas iraquianas, transformou o Iraque em um Estado frágil e fragmentado. Apesar de alguma soberania sobre seu espaço aéreo, a ineficiência de suas defesas o torna vulnerável a voos militares não autorizados de alta altitude.
Essa situação confere a Israel a possibilidade de utilizar ou sobrevoar espaços aéreos "neutros" ou desorganizados com menor risco de interceptação, uma vantagem estratégica crucial em um cenário de confronto com o Irã.
Colapso da Síria – Desde 2011, a Guerra Civil Síria devastou a capacidade estatal e militar do país. Mesmo com o apoio russo e iraniano ao governo Assad, Israel tem realizado centenas de ataques aéreos contra alvos do Hezbollah e forças iranianas na Síria com pouca ou nenhuma oposição. A Rússia, que controla parte da defesa aérea síria, tem evitado confrontar Israel diretamente, consolidando a percepção de Israel de que o espaço aéreo sírio é um "teatro operacional permissivo", especialmente em regiões estratégicas como a fronteira com o Líbano, Damasco e Deir ez-Zor.
A rota para Teerã – Israel considera o programa nuclear iraniano uma ameaça existencial e, por isso, tem planos para possíveis ataques preventivos. Voos diretos de Israel ao Irã demandariam a travessia dos espaços aéreos da Jordânia, Iraque e/ou Síria.
A ausência de sistemas de defesa eficientes ou a fragmentação política desses países aumentam a viabilidade técnica de um ataque aéreo israelense a instalações nucleares iranianas. O uso de aviões-tanque para reabastecimento aéreo já é uma prática estabelecida por Israel, permitindo missões de longa distância e reforçando sua capacidade operacional.
Conclusão – Em suma, a desorganização de Estados e forças armadas no Iraque e na Síria contribuiu significativamente para a liberdade estratégica de Israel na região. Essa situação permite a utilização ou sobrevoo desses espaços aéreos para atacar infraestruturas iranianas ou ligadas ao Irã, como as do Hezbollah e milícias xiitas.
Ao reduzir obstáculos militares e ampliar seu alcance operacional, a turbulência regional tem sido um fator determinante para o aumento da capacidade de Israel de projetar poder, inclusive em um possível ataque direto ao Irã.
*Fonte: historiamilitaremdebate.com.br