O ataque marca a primeira vez desde a Revolução Iraniana, em 1979, que os Estados Unidos enviaram sua Força Aérea para atingir grandes instalações no país. O presidente dos EUA afirmou que a ação visa evitar que o Irã avance em sua corrida para obter armas nucleares.
Até o momento, os Estados Unidos haviam evitado um conflito direto em larga escala com o Irã, uma estratégia seguida por diversas administrações americanas, desde a presidência de Jimmy Carter, no início dos anos 80.
Por que os EUA e o Irã entraram em conflito nos anos 80? – A década de 1980 foi um período de grandes tensões entre os Estados Unidos e o Irã, com uma série de confrontos diretos e indiretos que moldaram a relação entre os dois países até os dias atuais.
A crise dos reféns de 1979 – Em novembro de 1979, os Estados Unidos não enfrentaram um ataque militar direto, mas sim uma crise diplomática. Militantes iranianos tomaram a Embaixada dos EUA em Teerã e fizeram 52 americanos reféns.
O motivo principal por trás dessa ação foi a ira contra o apoio dos EUA ao xá deposto, que havia sido acolhido nos Estados Unidos para tratamento médico.
O governo iraniano, sob a liderança de Khomeini, acreditava que a presença do xá em solo americano representava uma continuidade da influência ocidental no país. Esse evento deu início a uma crise que duraria 444 dias, afetando gravemente as relações bilaterais.
A operação Eagle Claw – O governo dos EUA, liderado por Jimmy Carter na época, tentou resolver a crise de forma diplomática, mas também preparou uma operação militar para resgatar os reféns.
A missão, chamada Operação Eagle Claw, foi lançada em abril de 1980, mas acabou sendo um fracasso. Durante a execução da missão de resgate, uma falha mecânica e um acidente envolvendo helicópteros resultaram na morte de oito militares americanos e no fracasso da operação. Isso marcou o fim das tentativas de resgatar os reféns por meios militares e aprofundou ainda mais o abismo entre os dois países.
A guerra Irã-Iraque (1980-1988) – Em 1980, o Irã foi envolvido em um conflito com o Iraque, que resultaria na Guerra Irã- Iraque. Durante este período, os Estados Unidos adotaram uma postura mais favorável ao Iraque de Saddam Hussein, fornecendo apoio militar e inteligência.
O motivo para esse apoio estava relacionado ao desejo dos EUA de impedir que o Irã, após a Revolução, ganhasse mais poder e influência no Oriente Médio, especialmente no contexto da Guerra Fria, quando os EUA procuravam conter o avanço de regimes revolucionários e comunistas.
Embora os EUA não tenham se envolvido diretamente no conflito entre Irã e Iraque, o apoio ao Iraque acabou se tornando um ponto de fricção com o Irã, que se via como alvo da pressão ocidental. A guerra se arrastou por oito anos, com milhares de mortes e devastação, sem quem houvesse vencido a guerra – acordos bilaterais foram feitos – porém nunca assinaram acordos de Paz.
Durante a Guerra Irã-Iraque, os EUA realizaram duas operações militares diretas contra o Irã. A Operação Nimble Archer, em 1987, foi uma resposta a ataques iranianos a petroleiros no Golfo Pérsico, que estavam prejudicando o transporte de petróleo através do estreito de Ormuz. A Marinha dos EUA atacou plataformas de petróleo iranianas como uma forma de retaliar.
Em 1988, a Operação Praying Mantis foi uma operação naval ainda mais significativa, com o objetivo de destruir as plataformas de petróleo restantes e afundar um navio de guerra iraniano, o Sahand. Esse ataque foi uma resposta ao ataque iraniano a um navio de carga americano, o USS Samuel B. Roberts. A operação foi a maior ação naval dos EUA no Golfo Pérsico desde a Segunda Guerra Mundial e demonstrou a disposição dos EUA de se envolver diretamente no confronto com o Irã.
O abate do voo 655 – Um dos incidentes mais trágicos dessa década ocorreu em 3 de julho de 1988, quando o USS Vincennes, um cruzador da Marinha dos EUA, abateu o voo Iran Air 655, matando todos os 290 passageiros a bordo.
O ataque foi um erro, já que o avião comercial foi confundido com um alvo militar iraniano, mas gerou uma enorme controvérsia e aumentou ainda mais as tensões. O Irã considerou o abate um ato deliberado e hostil, enquanto os EUA justificaram como um erro em meio a um ambiente de alta tensão no Golfo Pérsico.
Conflito atual – O conflito entre os Estados Unidos, Israel e o Irã atingiu um novo pico na noite de sábado, quando os EUA lançaram ataques aéreos contra três espaços nucleares iranianos — Fordow, Natanz e Esfahan.
Os ataques ocorreram após uma semana de intensos combates aéreos entre Israel e Irã, com Israel atacando instalações nucleares e militares iranianas na tentativa de interromper o programa de armas nucleares do Irã.
Trump justificou a ação como uma resposta à contínua ambição nuclear do Irã e à recusa de Teerã em desmantelar seu programa nuclear. O presidente americano exigiu a "rendição incondicional" do Irã e deu um ultimato ao país, ordenando que abandonasse seu programa nuclear ou enfrentasse ações militares decisivas. O ataque dos EUA foi visto como uma forma de exigir que o Irã atenda os organismos internacionais e “pare seu programa nuclear”.
Este conflito reflete as tensões de longa data entre os três países, com o Irã persistindo em seu desenvolvimento nuclear, enquanto os EUA e Israel buscam impedir que o país adquira a capacidade de fabricar armas nucleares, representando uma ameaça crescente para a estabilidade no Oriente Médio.
*Fonte: exame.com