Queda de 0,7% no mês reflete contração do consumo, com salários corroídos pela inflação, e representa um desafio para o governo Javier Milei às vésperas das eleições de outubro
A economia argentina registrou em junho seu quarto mês consecutivo de contração, aprofundando a recessão iniciada no ano e marcando um revés para o plano de ajuste do presidente Javier Milei. O Indicador de Atividade Econômica (EMAE) recuou 0,7% em relação a maio, em uma queda que antecipa o cenário desafiador que o governo enfrentará nas eleições legislativas de outubro.
A retração de junho, divulgada pelo Instituto Nacional de Estatística e Censo (Indec), está diretamente alinhada com a forte contração no poder de compra dos argentinos. Os dados mostram que os gastos do consumidor vêm minguando nos últimos meses, pressionados pela aceleração inflacionária que corroeu os salários e os lançou em território negativo no primeiro semestre do ano. Com menos dinheiro em circulação, o consumo – motor tradicional da economia – freou bruscamente.
Este cenário de estagnação econômica e inflação alta foi o pano de fundo para uma das medidas mais duras do governo Milei: a decisão do Banco Central de elevar a taxa de juros em julho, em uma tentativa de conter a disparada de preços e conter a demanda. A estratégia, porém, tem um custo social alto e pode aprofundar ainda mais a recessão no curto prazo, um dilema que coloca o governo entre a cruz e a espada.
Para a administração Milei, os números negativos são interpretados como um “efeito colateral” inevitável do ajuste necessário para sanear as contas públicas e estabilizar a economia após anos de desequilíbrios. No entanto, a oposição e analistas de mercado veem na sequência de quedas um sinal de que a recessão está se aprofundando mais do que o projetado, criando um ambiente econômico frágil às vésperas de um pleito eleitoral crucial.
A performance da economia nos próximos meses será decisiva para definir o humor do eleitorado em outubro, quando os argentinos irão às urnas para renovar parte do Congresso. O resultado será um termômetro do apoio popular ao rigoroso programa de austeridade fiscal e liberalismo econômico defendido pelo presidente.
Fonte: InfoMoney e O Globo