Valorização do “achismo” em detrimento de fatos e análises aprofundadas tem moldado debates e tomado decisões, com sérias consequências negativas para a sociedade
Nos últimos anos, o Brasil tem vivenciado um fenômeno crescente: a valorização da opinião em detrimento do conhecimento. Em redes sociais, aplicativos de mensagens e espaços públicos, tornou-se comum ver indivíduos manifestando opiniões contundentes sobre temas complexos — como política, ciência, saúde pública e economia — sem embasamento teórico ou prático.
O pensamento crítico é a capacidade de analisar informações de forma lógica, refletida e criteriosa, considerando evidências, argumentos e contextos. Envolve habilidades como: avaliação de fontes, capacidade de argumentação lógica, reflexão antes da tomada de posição, autocrítica e abertura ao diálogo.
Sua ausência implica decisões impulsivas, baixa qualidade de debate público e maior suscetibilidade à desinformação.
A popularização das redes sociais impulsionou uma cultura de “opinar por opinar”, favorecendo: a Polarização e superficialidade dos debates; a valorização de posturas emotivas em detrimento de argumentos racionais; a rejeição ao saber técnico e científico, enfatizando o anti-intelectualismo.
O sistema educacional brasileiro ainda falha em estimular o raciocínio crítico e a argumentação lógica. O ensino tradicional se baseia em memorização e passividade, sem incentivar o questionamento.
Dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes-PISA, mais do que uma colocação ruim do Brasil na classificação geral entre os países participantes, revelam que muitos estudantes brasileiros têm dificuldade em interpretar textos e resolver problemas com base em lógica.
Com isso temos a desvalorização do especialista e a ascensão do “achismo” popular, com consequências graves. Muitos creem que “todo mundo tem direito à sua opinião“, o que é verdadeiro, mas confundem isso com o direito de estar certo sem justificativa, sendo meros repetidores de “memes da internet”.
Além disso temos a proliferação de fake news e teorias conspiratórias, radicalização de discursos e perda da convivência democrática, dificuldade na formulação de políticas públicas eficazes devido à pressão popular mal-informada; com desvalorização da ciência, cultura e do pensamento acadêmico.
O déficit de pensamento crítico na sociedade brasileira é um problema estrutural, com raízes na educação, na cultura e no ambiente digital. A tendência de opinar sem conhecimento contribui para a banalização do discurso público, a propagação da desinformação e o enfraquecimento do Estado Democrático de Direito.
Enfrentar esse cenário exige um esforço conjunto entre população, sociedade civil organizada, instituição públicas e privadas, no sentido de formar cidadãos mais reflexivos, éticos e comprometidos com o bem comum e respeito ao próximo.
Por Marco Antônio Mourão * Charge produzida com auxílio de IA