Um movimento cujo objetivo não é necessariamente chegar ao destino anunciado, mas estabelecer uma posição privilegiada de barganha com o real candidato da “Direita e Centrão” – Tarcísio de Freitas
No universo da estratégia política, poucos princípios são tão eficazes quanto aquele imortalizado em uma das 48 Leis do Poder: distrair o adversário com movimentos aparentes enquanto se executa a verdadeira jogada nos bastidores.
É a essência da dissimulação estratégica, fazer com que todos olhem para a mão direita enquanto a esquerda opera o verdadeiro lance.
O anúncio da pré-candidatura presidencial do senador Flávio Bolsonaro exemplifica essa tática com precisão cirúrgica. À primeira vista, parece uma declaração de intenções: o primogênito do ex-presidente surge como alternativa natural para manter viva a chama bolsonarista em 2026.
Mas, na realidade, trata-se de uma peça de abertura no xadrez das negociações políticas, um movimento cujo objetivo não é necessariamente chegar ao destino anunciado, mas estabelecer uma posição privilegiada de barganha.
Ao se apresentar como “o escolhido“, Flávio envia uma mensagem ao mercado, aos aliados e, principalmente, ao entorno de Tarcísio de Freitas, atual governador de SP e um candidato a presidente com forte apoio do “Mercado e do Centrão”: a família Bolsonaro está no jogo e não aceitará qualquer acordo.
O recado é claro: se o bolsonarismo não receber o que considera justo, do indulto presidencial ao controle de palanques regionais, seguirá com candidatura própria. Flávio pode ou não ser o nome final, mas sua pré-candidatura estabelece o ponto de partida da negociação, não o destino.
Enquanto analistas e adversários debatem a viabilidade eleitoral de Flávio, o verdadeiro objetivo se desenrola em segundo plano: fortalecer a posição negociadora para viabilizar a candidatura de Tarcísio de Freitas em condições aceitáveis ao clã.
A reação negativa do Ibovespa reflete não o temor de uma candidatura Flávio, mas a incerteza sobre se Bolsonaro aceitará compor com Tarcísio.
A questão central não é se haverá acordo, mas sob quais condições. A pré-candidatura de Flávio funciona como marcador de território, estabelecendo que o bolsonarismo não será apenas coadjuvante em um projeto capitaneado pelo governador de SP e Centrão.
O episódio Flávio ilustra um princípio atemporal da política e do poder: nem sempre o movimento anunciado é o movimento real. Às vezes, a melhor estratégia é fazer com que adversários e aliados gastem energia reagindo a uma jogada aparente, enquanto se negocia discretamente o lance verdadeiro.
Flávio não precisa ser viável como candidato; precisa apenas ser crível o suficiente como ameaça para que a mesa de negociação se forme nas condições desejadas pela família Bolsonaro
No final, a pré-candidatura não é sobre quem será candidato apoiado pelos Bolsonaros em 2026, mas sobre o aqui e agora das negociações que definirão o verdadeiro arranjo do campo de direita.
Nesse jogo de sombras e aparências, a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro cumpre seu papel: distrair enquanto o verdadeiro acordo se desenha nos bastidores.
Por Marco Antônio Mourão – Gestor Educacional e de Pessoas, Professor aposentado, Sócio proprietário da Equipe Assessoria Educacional Ltda, adora conversar sobre Política, Ciência Política, Economia e Gestão Pública Municipal.








