Enquanto barram propostas para tributar os mais ricos e mantêm privilégios fiscais para elites e grandes setores, parlamentares do Centrão aprovam medidas que oneram ainda mais os pobres e a classe média. População é favorável a mudanças, mas o Congresso segue ignorando
Em meio a uma escalada de desigualdades sociais e pressões fiscais, o Congresso Nacional, especialmente sob influência do Centrão, tem aprofundado uma lógica perversa: proteger os mais ricos e penalizar os mais pobres. A mais recente amostra dessa tendência veio na terça-feira (24), quando a liberação de emendas parlamentares — um instrumento político frequentemente associado ao “toma lá, dá cá” — saltou para R$ 1,72 bilhão em um único dia, eclipsando qualquer debate sério sobre justiça tributária.
Ao mesmo tempo, a Câmara e o Senado evitam discutir propostas que buscam tributar os mais ricos, como a taxação de investimentos imobiliários e no agronegócio — setores atualmente isentos — ou a revisão dos supersalários no funcionalismo público, especialmente no Judiciário. Em contrapartida, medidas que impactam diretamente os mais pobres, como o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), seguem sendo pautadas às pressas, sem debate público.
Esse comportamento legislativo colide com a opinião da maioria da população. Segundo uma pesquisa do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), os brasileiros apoiam a ideia de tributar mais os ricos e aliviar a carga sobre os mais pobres. Contudo, os parlamentares seguem uma agenda contrária ao desejo popular, reforçando a desconexão entre representantes e representados.
“A narrativa vendida é a de que se tributa muito no país, mas omite-se que quem paga mais proporcionalmente são os mais pobres, via impostos sobre o consumo, e a classe média, via Imposto de Renda. Os super-ricos, por outro lado, continuam praticamente intocados”, alerta um economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), que participa de um consórcio internacional que estuda como a riqueza se reproduz politicamente nas democracias desiguais.
Esse padrão de decisões mostra uma distorção estrutural: um Congresso mais sensível aos interesses de elites econômicas e lobbies poderosos do que às necessidades reais da maioria da população. A resistência em enfrentar privilégios, revisar renúncias fiscais bilionárias e impor justiça tributária revela uma política capturada — e uma democracia fragilizada.
A pergunta que ecoa entre especialistas e parte da sociedade civil é direta: por que o Congresso insiste em manter seus aliados na elite econômica livres de pagar o que os mais pobres já pagam, e ainda chama isso de justiça?
*Fonte: www1.folha – uol.com.br