Fábio Teruel (MDB-SP) destinou R$ 2,2 milhões em verba federal para recapear ruas dentro de condomínio fechado em Alphaville, onde vive com a esposa e celebridades. Caso escancara o uso imoral de emendas parlamentares em benefício próprio, enquanto o restante do país enfrenta buracos e abandono.
Enquanto milhões de brasileiros convivem com ruas esburacadas, sem saneamento ou infraestrutura básica, um recanto de luxo em Barueri, na Grande São Paulo, foi cuidadosamente recapeado com dinheiro público. O condomínio fechado Residencial Tamboré I, conhecido como a “Beverly Hills paulista” por abrigar mansões de até R$ 50 milhões e celebridades como a cantora Simone Mendes e a influenciadora Deolane Bezerra, recebeu obras financiadas por emendas parlamentares do deputado federal Fábio Teruel (MDB-SP) — que, coincidentemente (ou não), é morador do local.
Documentos oficiais disponíveis no Portal da Transparência confirmam que a Prefeitura de Barueri recebeu R$ 11 milhões em “emendas pix” do parlamentar. Desse montante, R$ 2,2 milhões foram usados para recapear as ruas internas do Tamboré I, como Sorocaba, Limeira e Campos do Jordão — vias que não constam nos mapas urbanos como prioritárias, mas que são endereço de luxo de Teruel e sua esposa, a vereadora paulistana Ely Teruel (MDB).
Embora a Prefeitura afirme que as ruas são públicas, a realidade prática é de acesso controlado por uma associação de moradores. O uso de recursos públicos para beneficiar diretamente a vizinhança do parlamentar levanta sérias suspeitas de imoralidade administrativa e favorecimento indevido — prática que pode configurar improbidade, conforme a legislação vigente. Pela lei, parlamentares são proibidos de direcionar emendas para obter benefício próprio ou para seus familiares.
O episódio ilustra de forma gritante o modo como parte dos deputados do chamado “Centrão” trata os recursos públicos: não como instrumentos de justiça social e investimento coletivo, mas como moeda de troca e privilégio pessoal. Enquanto bairros periféricos e cidades pobres padecem com a precariedade, ruas de um reduto fechado da elite são asfaltadas com verba federal.
A defesa do deputado é protocolar: segundo ele, a definição da aplicação dos recursos cabe exclusivamente às prefeituras. A gestão municipal, comandada por Beto Piteri (Republicanos), por sua vez, garante que tudo foi feito “dentro da legalidade”, justificando a obra com laudos técnicos que atestariam o desgaste do asfalto nas vias do Tamboré I.
Mas o que os documentos mostram é mais do que legalidade: é a blindagem de uma casta política que atua de forma camuflada, usando brechas da lei para sustentar privilégios. Fábio Teruel, que tem mais de 13 milhões de seguidores nas redes sociais e se apresenta apenas como “criador digital”, raramente se pronuncia como parlamentar. Seus vídeos religiosos com voz suave acumulam milhões de visualizações. Em um deles, com 27 milhões de acessos, ele recita o Salmo 91: “Que cada um colha as recompensas, de acordo com seus atos.”
No caso do deputado e seu condomínio asfaltado com dinheiro do povo, o versículo bíblico soa mais como ironia do que como fé.
*Fonte: g1.globo.com Texto produzido com auxílio de IA