Da constituinte ao orçamento secreto, a máxima “Hay Gobierno, Soy a Favor” rege a atuação do bloco, sempre em busca de poder, cargos e verbas – não existe preocupação com o desenvolvimento do país
O surgimento do Centrão remonta à Assembleia Nacional Constituinte, entre 1986 e 1988. Nesse período, o grupo emergiu como uma força conservadora, composta por políticos sem uma linha ideológica clara, mas com o objetivo de influenciar a nova Constituição. O Centrão se opôs a medidas progressistas que poderia dar uma outra cara a nossa democracia recém conquistada naquele período.
Naquela época, os principais partidos que compunham o Centrão eram o PDS, herdeiro da ARENA da ditadura militar; o PFL, uma dissidência do PDS com viés mais liberal economicamente; o PMDB , então o maior partido do país, com alas centristas e conservadoras; e o PTB, que, apesar do nome, se apresentava como um partido conservador, sem relação com o PTB histórico.
A influência do Centrão foi decisiva na constituinte para: limitar reformas agrárias e trabalhistas progressistas; manter privilégios de grupos econômicos; diminuir a força do Poder Executivo, tornando-o refém de seus interesses, criando um sistema presidencialista com facetas de parlamentarismo.
Nas décadas seguintes, o Centrão manteve sua relevância, atuando como articulador fundamental nos governos de Collor, Itamar, Fernando Henrique e Lula. Nesses períodos, o grupo frequentemente apoiava reformas econômicas em troca de espaço no poder, consolidando a política do “toma lá, dá cá”.
Os partidos que se destacaram no Centrão entre 1995 e 2015 foram o PMDB, que continuou sendo uma presença constante em todos os governos; o PP (Partido Progressista), surgido de dissidências do PDS e PFL, com perfil conservador; o PTB, e o PL (Partido Liberal), antecessor do PR. Esses partidos garantiam seu apoio aos governos em troca de ministérios, cargos, verbas e influência no orçamento.
2017-2025: mais recentemente, a atuação do Centrão atingiu um novo patamar, com a ascensão das emendas impositivas e, notadamente, o “Orçamento Secreto (emendas de relator)”, que se tornaram a principal moeda de troca para garantir apoio aos governos.
Atualmente, os principais partidos que compõem o Centrão incluem o MDB (antigo PMDB), mantendo seu pragmatismo e sua presença em todos os governos com cargos e ministérios; o PP, que tentou se posicionar como oposição, mas rapidamente retornou à sua atuação fisiológica; o PL, que se fortaleceu como representante do bolsonarismo; o União Brasil (fruto da fusão entre DEM e PSL); o PSD (Partido Social Democrático), criado por dissidentes do DEM e PSDB, com perfil de direita pragmática; o Podemos, que, embora menor, possui influência em negociações; e o Republicanos, um partido de perfil fisiológico e sem ideologia definida.
O “Centrão”, em sua essência, não é um bloco ideológico, mas sim um grupo de partidos fisiológicos que negociam apoio a governos em troca de benefícios. Desde a Constituinte, sua atuação tem sido consistentemente associada ao fisiologismo e, em diversos momentos, a denúncias de corrupção.
As principais características do “Centrão” hoje são o pragmatismo (apoiam quem oferecer mais vantagens), o fisiologismo (trocam apoio por cargos e recursos) e a falta de ideologia clara (muitos partidos mudam de lado conforme a conveniência).
*Por Marco Antônio Mourão –