Apesar do diálogo entre Lula e Trump, sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros segue em vigor. Empresas enfrentam perdas e desafios logísticos para redirecionar vendas; governo aposta em reunião desta quinta (16) para aliviar impasse.
A recente aproximação entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump reacendeu as esperanças de um reequilíbrio nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos. No entanto, os impactos da tarifa de 50% imposta há mais de dois meses pelo governo norte-americano ainda são fortemente sentidos por exportadores brasileiros, que agora correm contra o tempo para evitar prejuízos maiores.
Nesta quinta-feira (16), uma reunião entre o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, deve abrir caminho para uma possível negociação sobre as taxas. A expectativa do governo brasileiro é reverter a medida ou ao menos obter concessões que aliviem a pressão sobre os setores afetados.
Enquanto isso, empresas de diferentes regiões do país enfrentam um cenário de incertezas. No Ceará, fábricas cortaram custos e buscam novos compradores na Europa e na Ásia. Em Minas Gerais, produtores perderam contratos com os norte-americanos e passaram a enviar amostras para empresas da Noruega e de Dubai, tentando conter as perdas. As lagostas, tradicionalmente vendidas ao mercado dos EUA, seguem estocadas à espera de compradores chineses.
De acordo com especialistas, redirecionar exportações para outros mercados não é simples. Além da necessidade de ajustes logísticos, há exigências sanitárias, técnicas e negociais específicas em cada destino. O cenário escancara a fragilidade da política de comércio exterior do Brasil, ainda considerada defasada diante da complexidade do mercado global.
Os Estados Unidos ocupam a segunda posição entre os principais parceiros comerciais do Brasil, atrás apenas da China. Apesar das alegações de Trump de que o comércio bilateral favoreceria os brasileiros, os números mostram o oposto: em setembro, o Brasil registrou um déficit de aproximadamente US$ 1,8 bilhão com os EUA o nono mês consecutivo de saldo negativo.
Houve também uma queda de 20% nas exportações brasileiras para o mercado norte-americano, passando de US$ 3,23 bilhões em setembro de 2024 para US$ 2,58 bilhões no último mês, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
A sobretaxa imposta pelos EUA atinge cerca de 55% das exportações brasileiras para aquele país, o que representa cerca de US$ 22 bilhões em produtos. Entre os itens afetados estão café, carne bovina, ferro e aço semimanufaturados, além de bens manufaturados. Setores como siderurgia, madeira, calçados, máquinas e pecuária também sentem o impacto, especialmente por não contarem com isenções tarifárias.
A reunião agendada para esta quinta é vista como uma oportunidade-chave para destravar o impasse. O governo brasileiro tenta articular uma revisão das tarifas com base no argumento de que a medida tem caráter protecionista e desproporcional, prejudicando a competitividade dos produtos nacionais.
Enquanto não há acordo, o país corre para adaptar suas cadeias de exportação e buscar novos destinos para seus produtos uma missão que exige tempo, investimento e planejamento estratégico.
Para analistas, o episódio pode servir de alerta para a necessidade de uma política de comércio exterior mais proativa, com acordos bilaterais mais sólidos e maior capacidade de reação a mudanças no cenário internacional.
Fonte: g1







