Com preços do cacau ainda em alta no mercado internacional, empresa americana intensifica investimentos no Brasil
A americana Cargill está refinando suas estratégias para o mercado de chocolate e aposta no Brasil como peça-chave para expandir sua presença no food service. O movimento atende a um pedido recorrente de clientes do setor: reduzir o preço do chocolate, pressionado pela disparada nos custos do cacau.
Nos últimos anos, o preço da matéria-prima subiu de forma inédita. Historicamente negociado entre US$ 1,5 mil e US$ 2 mil por tonelada, o cacau chegou a ultrapassar US$ 12 mil pouco antes da Páscoa de 2024, após quebras de safra em países africanos — responsáveis por cerca de 70% da produção mundial. Atualmente, mesmo com leve recuo, o preço gira em torno de US$ 6 mil por tonelada, mais que o dobro da média histórica.
A região que já foi responsável por mais ou menos 70% do cacau do mundo está perdendo produtividade. Sem perspectivas de solução rápida no continente africano, a Cargill tem olhado para o potencial brasileiro como alternativa estratégica.
O país, que já chegou a produzir mais de 400 mil toneladas anuais, mantém há duas décadas uma produção estável, na faixa de 200 mil toneladas, insuficiente para atender à própria demanda interna.
Desde 2021, a empresa intensificou ações para estimular a produtividade nacional. Em parceria com a Schmidt Agrícola, criou uma Sociedade em Conta de Participação e anunciou investimento de US$ 10 milhões (divididos entre as partes) ao longo de cinco anos para implementar a produção de cacau irrigado em Riachão das Neves, no oeste da Bahia — com meta de alcançar 4,5 mil quilos por hectare.
Paralelamente, a Cargill tem promovido assistência técnica a pequenos produtores no sul da Bahia, que cultivam o cacau no tradicional sistema cabruca — sob a sombra da mata nativa. Segundo Cristina, a produtividade média desses agricultores saltou de 200–300 quilos por hectare para cerca de 800 quilos, resultado de treinamento, acesso a insumos e apoio técnico.
A Cargill possui hoje uma fábrica de processamento de cacau em Ilhéus (BA) e outra unidade em Porto Ferreira (SP), onde produz o chocolate destinado a seus clientes do food service.
Apesar da expansão, a companhia descarta criar uma marca própria de chocolate para o varejo. “Não temos ambição de entrar com chocolate no varejo, até para não competir com os nossos clientes”, disse Cristina.
A decisão reforça o foco da Cargill em fortalecer a base produtiva e a cadeia de fornecimento, num momento em que o mercado global do cacau enfrenta seu maior desafio em décadas — e em que o Brasil tenta reconquistar o protagonismo que já teve entre os grandes produtores mundiais.
Fonte: Isto É Dinheiro