Enquanto o campo ocupa 18 milhões de trabalhadores com produtividade anual de R$ 36,4 mil por pessoa, a indústria extrativa, com apenas 500 mil empregados, gera R$ 632 mil por trabalhador
A economia brasileira revela contrastes marcantes quando se observa a produtividade entre diferentes setores. Em 2024, a agropecuária e a indústria extrativa ilustraram esse abismo de maneira emblemática.
Apesar de a agropecuária empregar cerca de 18 milhões de pessoas no país, sua contribuição ao Produto Interno Bruto (PIB) foi de R$ 655,3 bilhões. Já a indústria extrativa, com um contingente significativamente menor — estimado em 500 mil trabalhadores — adicionou R$ 316 bilhões à economia, segundo dados do IBGE e estimativas baseadas na participação setorial.
Esses números revelam uma realidade inegável: a produtividade por trabalhador na indústria extrativa é quase 17 vezes maior que na agropecuária. Enquanto cada trabalhador do setor agropecuário gerou, em média, R$ 3.033 por mês em valor adicionado, um empregado da indústria extrativa agregou cerca de R$ 52.666 por mês. Em termos anuais, são R$ 36.400 contra R$ 632.000, respectivamente.
Esse contraste reflete não apenas a maior intensidade de capital e tecnologia nas atividades de mineração e extração de petróleo e gás, mas também o desafio estrutural do setor agrícola brasileiro, que ainda opera com forte dependência de mão de obra e menor valor agregado por unidade de produção.
Mesmo com uma presença massiva na força de trabalho e sua relevância estratégica para a segurança alimentar, a agropecuária sofre com baixos índices de retorno econômico por trabalhador. Essa situação indica a necessidade de políticas públicas voltadas à modernização do campo, com investimentos em mecanização, inovação tecnológica e qualificação profissional.
A análise comparativa também reforça um ponto crucial: o crescimento sustentável da economia brasileira não depende apenas do volume de produção, mas da eficiência com que os setores transformam trabalho em valor.
Sem ganhos de produtividade, especialmente na base da pirâmide ocupacional, o país seguirá convivendo com desigualdades econômicas internas mesmo diante de avanços setoriais isolados.
*Fonte: www.paulogala.com.br