Bilionário norte-americano denuncia disparidade no sistema fiscal dos EUA; no Brasil, super-ricos pagam menos imposto do que a classe média, revelando uma desigualdade ainda mais gritante.
“Como isso pode ser justo?”, perguntou Warren Buffett ao comentar sua própria carga tributária. O quinto homem mais rico do mundo, com fortuna estimada em US$ 166 bilhões (quase R$ 1 trilhão), falava com o escritor e comentarista político Ben Stein, em novembro de 2006, sobre uma inquietação que parecia contradizer seu status: apesar de um sistema progressivo de taxação nos Estados Unidos, Buffett pagava proporcionalmente menos impostos do que qualquer funcionário de seu escritório. E o fazia sem recorrer a planejamentos fiscais sofisticados — apenas cumprindo o que determinava a lei.
A resposta de Buffett ecoa até hoje como um dos diagnósticos mais incisivos sobre a desigualdade tributária global. Quando Stein sugeriu que levantar esse tema era visto como fomentar “luta de classes”, Buffett não hesitou: “Há uma luta de classes, sim. Mas é a minha classe, a classe rica, que está fazendo a guerra, e estamos ganhando.”
Nos Estados Unidos, o imposto de renda individual varia entre 10% e 37%, conforme a renda. Em 2025, quem ganhar até US$ 12 mil por ano pagará 10%, enquanto os que ganharem mais de US$ 626 mil anuais entram na alíquota mais alta. Mesmo assim, os rendimentos de capital e dividendos — principais fontes de riqueza dos bilionários — acabam sendo taxados com alíquotas menores ou diferenciadas, criando brechas legais que beneficiam os mais ricos.
Se os super-ricos estão vencendo a guerra fiscal nos EUA, no Brasil a situação chega a ser escandalosa. Em entrevista recente ao jornalista Reinaldo Azevedo, a deputada federal Tabata Amaral (PSB) chamou atenção para a proposta do governo federal que pretende cobrar apenas 10% de imposto de renda de pessoas com renda mensal superior a R$ 1 milhão — a mesma alíquota inicial do sistema norte-americano, aplicada a quem mal supera o limiar da sobrevivência.
“Quem recebe R$ 1 milhão por mês vai pagar 10% de imposto e quem recebe R$ 10 mil, R$ 20 mil, vai pagar 27,5%?”, questionou a deputada. “O país mais capitalista do mundo cobra mais impostos dos super-ricos do que a gente, os Estados Unidos da América.”
A declaração escancara a inversão de justiça fiscal no Brasil: ao invés de tributar mais quem ganha mais, a estrutura atual penaliza a classe média e assiste, inerte, ao crescimento da desigualdade. A proposta de reforma, embora apresentada como um avanço, foi considerada tímida até por parlamentares aliados, que apontam a necessidade de uma maior ousadia para enfrentar o privilégio tributário dos ultra-ricos.
*Fonte: www1.folha.uol.com.br