Em “Como Curar um Fanático”, o escritor israelense adverte que o fanatismo é uma doença social de rápida propagação e que pode infectar até aqueles que lutam contra ele.
O fanatismo, segundo o autor israelense Amos Oz, não é apenas um desvio de comportamento, mas uma ameaça epidêmica à convivência humana. Em seu ensaio “Como Curar um Fanático”, Oz lança um alerta que continua atual: “Sejam muito cuidadosos; fanatismo é fácil de pegar, é mais contagioso do que qualquer vírus. Pode-se facilmente contrair fanatismo mesmo quando se está tentando vencê-lo ou combatê-lo”.
A metáfora do contágio não é casual. Para Oz, o fanatismo religioso se espalha pela sociedade da mesma forma que uma infecção: silenciosamente, disfarçado de virtude moral, pureza de fé ou desejo de justiça. Sua crítica ultrapassa fronteiras e crenças — o autor israelense, conhecido por sua defesa da coexistência entre judeus e palestinos, via o fanatismo como um mal universal, não restrito a uma religião ou ideologia.
A advertência de Oz ganha eco em um momento histórico marcado pela radicalização do discurso religioso e político. O fenômeno das redes sociais intensifica o que o escritor chamava de “narcisismo moral”, a convicção de que apenas uma verdade é legítima e todas as demais são ameaças. “O fanático não suporta a diferença”, escreveu Oz. “Ele é movido por uma incapacidade profunda de conviver com a multiplicidade humana.”
Em vez de combate direto, o autor propunha um antídoto: a imaginação moral, a capacidade de se colocar no lugar do outro. Para Oz, curar o fanatismo exigia menos imposição e mais empatia, uma forma de resistência silenciosa contra a intolerância e o ódio.
Num mundo em que a fé frequentemente é usada como fronteira entre “nós” e “eles”, a lição de Oz soa como uma vacina urgente. Afinal, como ele advertia, o fanatismo pode nascer até da convicção de querer eliminá-lo, um paradoxo que revela sua verdadeira força: a de transformar até a boa intenção em arma.
Fonte: Folha de S. Paulo e AVOSIDADE