A ideia de dualidade na economia refere-se à coexistência de dois tipos distintos de setores: um setor de alta complexidade e alto valor agregado, que paga salários mais elevados e exige maior qualificação, e um setor de baixa complexidade, que paga salários mais baixos e emprega trabalhadores com qualificação menor. Essa estrutura dual é observada em todas as economias do mundo, mas sua expressão e impacto sobre os salários variam conforme o nível de desenvolvimento econômico de cada região.
Setor de Alta Complexidade
O setor de alta complexidade é composto por atividades que exigem tecnologia avançada, inovação e uma força de trabalho qualificada. Exemplos típicos incluem:
• Manufaturas de alta tecnologia: como a fabricação de equipamentos eletrônicos, produtos farmacêuticos, automóveis de última geração e equipamentos médicos.
• Serviços empresariais: consultorias, serviços financeiros, desenvolvimento de software e pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Esses setores tendem a concentrar-se em áreas urbanas e em regiões com infraestrutura desenvolvida, o que facilita o acesso a uma mão de obra qualificada e a recursos tecnológicos. O setor complexo não só gera empregos de alta remuneração, mas também promove inovações que aumentam a produtividade geral da economia.
Setor de Baixa Complexidade
Por outro lado, o setor de baixa complexidade engloba atividades com menor necessidade de tecnologia e inovação, como:
• Serviços pessoais: incluindo serviços de limpeza, cuidados pessoais e comércio de varejo.
• Agropecuária: atividades agrícolas e pecuárias tradicionais, que demandam pouca qualificação e tecnologia.
• Manufaturas simples: produção de bens com valor agregado relativamente baixo, como têxteis e calçados.
Este setor tende a oferecer salários menores, dada a menor complexidade das atividades e a abundância de mão de obra com qualificação mais baixa. Sua concentração é geralmente mais alta em áreas rurais ou em economias menos desenvolvidas.
Dualidade nas Regiões Ricas e Pobres
Essa dualidade está presente em todos os países, mas as regiões mais ricas têm uma diferença marcante: a densidade e a influência do setor de alta complexidade. Em economias desenvolvidas, como Estados Unidos, Alemanha e Japão, o setor complexo é vasto e emprega uma parte significativa da população, criando um “efeito de transbordamento” que eleva os salários nos setores de baixa complexidade. Isso ocorre porque a demanda de trabalhadores qualificados aumenta, mesmo para funções de suporte, elevando os salários em geral e criando uma pressão positiva sobre o setor menos complexo.
Nos Estados Unidos, por exemplo, as áreas urbanas com forte presença de empresas de tecnologia e finanças, como São Francisco e Nova York, registram altos salários em serviços simples, como alimentação e limpeza, pois esses trabalhadores estão próximos de uma economia local de alto valor agregado. Esse efeito também é observado na Alemanha, onde o setor industrial de alta complexidade, especialmente em engenharia e manufatura avançada, eleva a remuneração e as condições de trabalho em regiões como a Baviera.
Já em regiões menos desenvolvidas, como alguns países na África e América Latina, o setor complexo é menor e menos denso, o que limita seu efeito sobre o resto da economia. Nesses países, a predominância de setores menos complexos mantém os salários baixos, e o acesso ao emprego qualificado e bem remunerado é restrito a uma minoria. Mesmo em áreas urbanas, onde se concentra o setor de serviços, a falta de um setor robusto de alta complexidade impede a elevação generalizada dos salários.
Implicações Econômicas e Desafios
Essa dualidade traz desafios para o desenvolvimento econômico. Para países e regiões menos desenvolvidas, expandir o setor de alta complexidade é essencial para reduzir as desigualdades de renda e melhorar a qualificação da força de trabalho. No entanto, essa expansão requer políticas de investimento em educação, infraestrutura e inovação, para que o setor de alta complexidade possa se estabelecer e crescer.
Por outro lado, países ricos enfrentam o desafio de garantir que a expansão do setor complexo continue a sustentar o crescimento de toda a economia e que o aumento dos salários não gere desequilíbrios no mercado de trabalho menos qualificado. Dessa forma, o modelo de dualidade econômica é uma estrutura que explica não só a desigualdade interna em regiões e países, mas também a hierarquia econômica global, onde países com setores complexos mais desenvolvidos têm melhores condições para promover prosperidade e elevar o padrão de vida geral de suas populações.
*Por Paulo Gala 14/11/2024 – Paulo Gala / Economia & Finanças <donotreply@wordpress.com>